ATA DA QUADRAGÉSIMA SEXTA SESSÃO ORDINÁRIA DA
TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 24.04.1991.
Aos vinte e quatro dias do mês de abril do ano de
mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio
Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Sexta Sessão
Ordinária da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às
quatorze horas e quinze minutos foi realizada a segunda chamada, sendo
respondida pelos Vereadores Adroaldo Correa, Airto Ferronato, Antonio
Hohlfeldt, Clóvis Brum, Clóvis Ilgenfritz, Cyro Martini, Décio Schauren, Edi
Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Gert Schinke, Giovani Gregol, Isaac
Ainhorn, Jaques Machado, João Dib, João Motta, José Alvarenga, José Valdir,
Lauro Hagemann, Leão de Medeiros, Mano José, Letícia Arruda, Luiz Braz, Luiz
Machado, Nelson Castan, Nereu D’Ávila, Omar Ferri, Vicente Dutra, Vieira da
Cunha, Wilson Santos, Wilton Araújo, Mário Fraga e Martim Aranha Filho.
Constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os
trabalhos e solicitou ao Vereador Mário Fraga que procedesse à leitura de
trecho da Bíblia. A seguir, o Senhor Secretário procedeu à leitura da Ata da
Quadragésima Quinta Sessão Ordinária e da Ata da Décima Sessão Solene, que
foram aprovadas. Do EXPEDIENTE constaram os Ofícios nºs 20/91, do Hotel Laje de
Pedra - Canela/RS e, o de nº 174/91, do Presidente do Tribunal de Justiça do
Estado do Rio Grande do Sul. Em continuidade, o Vereador João Motta requereu
inversão na ordem dos trabalhos, Requerimento retirado pelo Autor. À MESA foram
encaminhados: pelo Vereador Isaac Ainhorn, 06 Pedidos de Providências; pelo
Vereador João Motta, 01 Projeto de Resolução nº 13/91 (Processo nº 1103/91);
pela Vereadora Letícia Arruda, 06 Pedidos de Providências; pelo Vereador Luiz
Machado, 02 Pedidos de Providências; pelo Vereador Nelson Castan, 01 Pedido de
Providências; pelo Vereador Nereu D’Ávila, 01 Pedido de Providências; e pelo
Vereador Vieira da Cunha, 02 Pedidos de Providências. E, ainda, foram
apregoados o Ofício nº 218/GP, do Senhor Prefeito Municipal e o Ofício nº
05/91, do Vereador Clóvis Ilgenfritz, Líder da Bancada do PT. Em continuidade,
o Senhor Presidente registrou a presença, na Mesa dos Trabalhos, dos Senhores
Diógenes de Oliveira, Secretário Municipal dos Transportes e do Economista
Jackson S. de Toni, Assessor de Planejamento da Secretaria Municipal dos
Transportes, que vieram prestar esclarecimentos a respeito do cálculo tarifário
que resultou na fixação da tarifa de transporte coletivo em setenta e cinco
cruzeiros, a requerimento do Vereador Isaac Ainhorn, aprovado pela Casa. Em
COMUNICAÇÃO DE LÍDER, o Vereador João Motta informou que a partir de hoje a
Liderança do Partido dos Trabalhadores está sob a responsabilidade do Vereador
Clóvis Ilgenfritz e as Vices-Lideranças a cargo dos Vereadores José Valdir e
Giovani Gregol. A seguir, o Senhor Presidente registrou a presença, no
Plenário, da Vereadora Elisiane, da Câmara Municipal de Tramandaí. A seguir, o
Senhor Presidente concedeu a palavra ao Senhor Secretário Municipal dos
Transportes, que prestou esclarecimentos acerca da tarifa do transporte
coletivo em Porto Alegre e respondeu questionamentos dos Vereadores João Dib,
Vieira da Cunha, Isaac Ainhorn, Clóvis Ilgenfritz, Luiz Machado, Martim Aranha
Filho, Décio Schauren, Wilson Santos, Luiz Braz, Mário Fraga, José Alvarenga e
Clóvis Brum, acerca do assunto em debate. Na ocasião, o Senhor Presidente
respondeu Questões de Ordem dos Vereadores Luiz Braz, Vieira da Cunha, Isaac
Ainhorn, Clóvis Brum e Adroaldo Correa, acerca do tempo de que dispunham os
Vereadores para formular questionamentos ao Secretário Municipal dos
Transportes; dos Vereadores Isaac Ainhorn, João Dib, Clóvis Brum, Giovani
Gregol, Luiz Braz, Clóvis Ilgenfritz e Antonio Hohlfeldt, acerca dos artigos
201 e 202 do Regimento Interno. Ainda, o Vereador Edi Morelli registrou
dificuldades que vem enfrentando para conseguir cópias da planilha de custos
relativa às tarifas do transporte coletivo em Porto Alegre, e o Senhor
Presidente suspendeu os trabalhos das dezesseis horas e vinte e um minutos às
dezesseis horas e trinta e cinco minutos, nos termos do artigo 81, I do
Regimento Interno. Às dezoito horas o Senhor Presidente suspendeu os trabalhos,
nos termos do artigo 84, II do Regimento Interno, sendo os mesmos reabertos às
dezoito horas e dois minutos, constatada a existência de “quorum”. A seguir,
foi aprovado Requerimento verbal do Vereador Giovani Gregol, solicitando
alteração na ordem dos trabalhos, iniciando-se a ORDEM DO DIA. Em
prosseguimento, foi aprovado Requerimento verbal do Vereador Clóvis Brum,
solicitando alteração na ordem de votação dos processos em pauta. Em Discussão
Geral e Votação foi aprovado o Projeto de Decreto Legislativo nº 04/91. A
seguir, foi aprovado Requerimento do Vereador Clóvis Ilgenfritz, solicitando
que este Projeto seja dispensado de distribuição em avulsos e interstício para
sua Redação Final, considerando-a aprovada nesta data. Em Votação esteve o
Projeto de Lei do Legislativo nº 51/90, o qual deixou de ser votado face à
inexistência de “quorum”. Às dezoito horas e quinze minutos foi realizada nova
verificação de “quorum”, por solicitação do Vereador Clóvis Brum e, constatada
a inexistência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou encerrados os
trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã,
à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Antonio
Hohlfeldt e Airto Ferronato e secretariados pelos Vereadores Leão de Medeiros e
Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Leão de Medeiros, 1º Secretário, determinei fosse
lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será
assinada pelo Senhor Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Airto
Ferronato): Estão abertos os trabalhos
da presente Sessão.
Para
um Requerimento, Ver. Edi Morelli.
O SR. EDI MORELLI (Requerimento): Sr. Presidente, eu pedi que a Prefeitura, através da SMT, divulgasse na
imprensa a planilha dos cálculos dos reajustes tarifários. Em contrapartida, o
Prefeito Olívio Dutra deu uma nota à imprensa, na coluna do Políbio Braga,
dizendo que na SMT a planilha estava à disposição dos usuários. Mandei,
segunda-feira, meu Chefe de Gabinete com o ofício na SMT e não lhe foi dada a
planilha. Em contrapartida, o Secretário, Sr. Diógenes, disse que a planilha
estava à disposição no gabinete da Presidência desta Casa, só que, até agora,
apesar de muitas insistências do meu gabinete, eu não recebi essa planilha
ainda.
O SR. PRESIDENTE: V. Exª
requer cópia da planilha de cálculo encaminhada à Casa?
O SR. EDI MORELLI: É, ou
que eu deixe de ser enrolado pela SMT ou pela Presidência desta Casa.
O SR. PRESIDENTE: Está
tomada a providência. Nós gostaríamos de comunicar à Casa que está presente no
Plenário a Vereadora Elisiane Silva, do PMDB de Tramandaí.
O SR. JOÃO DIB (Requerimento): Sr. Presidente, eu gostaria que me fosse fornecido o quanto foi
descontado dos Vereadores, por falta, no primeiro trimestre deste ano.
O SR. PRESIDENTE: Será
encaminhada a V. Exª resposta a este Requerimento.
O SR. JOÃO MOTTA
(Requerimento): Eu gostaria de retirar o
meu Requerimento encaminhado à Mesa.
O SR. PRESIDENTE: Retirado o Requerimento. Nós comunicamos aos
Srs. Vereadores que hoje comparecerá, já está presente, o Secretário Municipal
dos Transportes, Dr. Diógenes Oliveira, a fim de prestar esclarecimentos a
respeito do cálculo tarifário que resultou na fixação da tarifa do transporte
coletivo em Cr$ 75,00, a Requerimento do Ver. Isaac Ainhorn, Processo nº
0973/91.
Liderança
com o PT. Com a palavra o Ver. João Motta.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, não
pretendo usar todo o tempo, apenas gostaria de noticiar aos companheiros
Vereadores de todas as Bancadas, em particular aos companheiros Líderes de
Bancada, uma decisão que esta semana, nós, internamente, na Bancada, juntamente
com a Executiva Municipal do Partido, tomamos em relação à renovação da
Liderança e do coletivo da Liderança da nossa Bancada. A partir de hoje, a
Liderança da Bancada do PT está sob a responsabilidade do companheiro Clovis
Ilgenfritz e dos dois companheiros que foram eleitos Vice-Líderes, o
companheiro José Valdir e o companheiro Giovani Gregol. Gostaria de registrar a
minha mais irrestrita confiança nesse coletivo, pois são companheiros que possuem
uma trajetória, não só dentro do Partido, mas também dentro desta Casa,
construída em cima da sua postura politizada, solidária, e acho que todos os
Vereadores, com esse conjunto de companheiros, podem encontrar companheiros
voltados para resgatar cada vez mais o debate político, a divergência política
muitas vezes, mas também a fidelidade e a mais radical defesa das propostas não
só da Administração Popular, mas também do nosso Partido que vive,
especialmente este ano, a realização do seu primeiro congresso.
Gostaria
de dizer, também, que aprendi muito neste mais de um ano no exercício dessa
função política, e o meu desejo e a minha disposição em continuar conversando,
discutindo e debatendo com os companheiros não arrefecerá, embora agora esse
papel passe a ser executado juntamente com os demais companheiros, o que é o
exercício puro e simples do mandato.
Era
este o registro que queria fazer, formalizando aos companheiros a nova
Liderança do PT, o companheiro Clovis Ilgenfritz da Silva. Muito obrigado.
(Não revisto pelo
orador.)
O SR. PRESIDENTE (Antonio Hohlfeldt): A Mesa recebe a comunicação formal do Ver. Clovis Ilgenfritz, que assume
a Liderança do Partido dos Trabalhadores juntamente com os Vereadores José
Valdir e Giovani Gregol, como Vice-Líderes. Queremos prestar nossa homenagem
aos Vereadores que assumem tal função na Casa.
Com
respeito à Questão de Ordem do Ver. João Dib, será providenciada pela Mesa a
fim de que V. Exª receba as informações necessárias, com a cópia, inclusive,
dos pagamentos feitos aos Srs. Vereadores nos três meses iniciais.
Referentemente
à Questão de Ordem do Ver. Edi Morelli, temos a informar a S. Exª que,
certamente, seu funcionário ouviu mal e, portanto, transmitiu mal a informação
de que existe planilha com a Presidência, a planilha encontra-se na Casa, não
na Presidência.
Cumprindo
dispositivo do Regimento Interno, artigos 201 e 202, e atendendo ao
Requerimento do nobre Ver. Isaac Ainhorn, comparece à Casa o Secretário dos
Transportes, Dr. Diógenes Oliveira. O Sr. Secretário comparece acompanhado de
sua assessoria, no sentido de poder bem responder às questões dos Srs.
Vereadores.
Ver.
Edi Morelli, atendi sua Questão de Ordem, encontra-se na Casa. Creio que o Ver.
Wilson Santos, provavelmente... Não tenho bem clara a informação, mas o próprio
Secretário poderá ilustrá-lo a respeito. Não se encontra, no entanto, com esta
Presidência que não tem o hábito de enrolar ninguém.
O SR. EDI MORELLI: Não procede a preocupação do Sr. Prefeito.
O SR. PRESIDENTE: Isto posto, passamos a Presidência ao Ver.
Airto Ferronato.
(O Ver.
Airto Ferronato assume a Presidência dos trabalhos.)
O SR. PRESIDENTE
(Airto Ferronato): Com a
palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES
OLIVEIRA: Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, é para nós um motivo de satisfação a possibilidade de podermos
estar aqui na Câmara de Vereadores, trabalhar esta tarde com todos os Srs.
Vereadores, no sentido de prestar esclarecimento e estudar e debater este tema
sempre momentoso em Porto Alegre, a questão da tarifa do ônibus, do preço da
passagem.
Sabem
os senhores que o transporte coletivo é um sistema público definido por lei e
que, às vezes, mediante o regime de permissão aqui em Porto Alegre, pode ser
prestado, pode ser operado por empresas privadas, mas ele deve ser remunerado
em consonância com os seus custos.
Então,
vejam que no fundo de toda essa polêmica sobre a questão do preço da passagem,
da tarifa do transporte coletivo por ônibus, a equação final disso é muito
simples, pois se trata de saber qual o custo total do sistema de transporte
coletivo - quando digo o custo total é o custo público e o privado -, é dividir
esse custo pelo número das pessoas que pagam. Este é o preço final da tarifa.
Eu
creio que nós já avançamos bastante na questão de medir o número o mais exato
possível das pessoas que pagam o transporte, porque, efetivamente, o transporte
não tem nenhuma fonte de receita a não ser a roleta, nenhum tipo de subsídio,
nem estadual, nem federal, nem municipal e não há injeção de recursos externos
para o sistema. Portanto, ele tem que viver daquilo que a roleta dá.
Os
passageiros pagantes em Porto Alegre estão dimensionados pela Secretaria
Municipal dos Transportes através de um levantamento censitário diário que nós
fazíamos do número de passageiros, levantamento esse que é processado pela
nossa Companhia Municipal de Processamento de Dados, a PROCEMPA, e com relativa
exatidão, precisa ser mais ajustado e ser mais controlado, mas com relativa
exatidão. Ainda que hoje com um certo atraso, nós conseguimos ter esta
radiografia do sistema, ou seja: quem anda de ônibus e quem paga; isto, em
linguagem técnica, se chama “passageiro equivalente”. Quando nós vamos
examinar, por exemplo, a situação do estudante, e nós temos aqui em Porto
Alegre 14,9% de pessoas que se deslocam na qualidade de estudante, esse
estudante, é preciso que ele seja transformado em passageiro equivalente, ou
seja, dividir por dois esse número para se ter a passagem inteira.
Então,
me parece que esta questão está relativamente bem equacionada ou em vias de
solução, porque agora nós pretendemos implantar uma metodologia nova de
aferição do número de passageiros transportados, através de um programa
elaborado pela PROCEMPA, de transmissão online,
em que tudo aquilo que aconteceu de dia, numa empresa prestadora de serviços,
seja transmitido, por telefone, à noite, para os computadores da PROCEMPA para
que, já no outro dia ou com quarenta e oito horas, no máximo, de prazo, a gente
possa saber como é que o sistema se comportou em número de passageiros transportados.
Fica,
aí, então, o papel da SMT de fazer uma fiscalização rigorosa, por amostra, para
verificar, para aferir a certeza e o caráter fidedigno desses dados. O
problema, então, da tarifa, ele começa a se tornar mais complexo quando vamos
medir os custos do sistema, porque aí os critérios e os índices utilizados
podem variar significativamente, dependendo da conjuntura econômica e
dependendo da política que se queria implementar para isso.
Eu
sempre costumo dizer que o transporte coletivo, o preço da passagem no
transporte coletivo, ele tem dois componentes básicos: a possível alteração de
preços que possa haver no mercado e alterações de custo que possam se produzir
no sistema, mesmo sem ter havido alterações de preço. E isso que digo não é paradoxal,
porque se nós concebermos uma frota de mil e quinhentos ônibus, a rigor, se nós
tirarmos dali um ônibus velho e colocarmos um ônibus novo, isso altera o preço
da tarifa, só este movimento, e isso acontece todos os dias e altera porque o
valor da depreciação de um ônibus velho de dez anos é zero e o valor de
depreciação de um ônibus zero é dez vezes maior. Nas nossas leis e na nossa
concepção, o problema da remuneração do capital e a depreciação são itens
bastante importantes na composição do custo final do sistema. Nós estivemos
estudando profundamente a situação do transporte coletivo em Porto Alegre,
porque começou a nos chamar a atenção o problema justamente ligado com a
remuneração do capital e a depreciação.
Sabem
os senhores que, de acordo com a lei, um ônibus em Porto Alegre tem uma vida
útil de dez anos e uma sobrevida, também prevista em lei, facultativa, de mais
três anos. Então, é possível, rigorosamente, contando a partir da data de
fabricação ou do primeiro emplacamento, nós termos aqui em Porto Alegre um
ônibus que tenha treze anos de idade. E diz a lei e prevê a lei, no item
depreciação e remuneração de capital, mas, principalmente, no item depreciação,
que um veículo quando entra na frota será depreciado em dez anos em até 80% do
seu valor, ficando, portanto, esse veículo ou essa frota com 20% de resíduo do
seu valor original para ser trocado ou vendido no momento em que esse carro
seja renovado. Mas isso dizia a lei antes daquela outra que estendeu mais a
sobrevida dos ônibus durante esses três anos.
E o que
constatamos? Se um ônibus, completando dez anos de idade, tinha, como de fato
pode ter e deve ter, um valor residual de mais de 20%, este valor já não pode
ser o mesmo na medida em que ele rodar mais três anos. Nós continuávamos na
Secretaria - e no consenso das pessoas - dizendo que, apesar de ter rodado três
anos a mais, ainda continuava com aquele valor residual de 20%. Isso não é
verdade na vida e nem nos mecanismos de mercado. Um ônibus que tem dez anos de
idade pode ter um valor residual de 20%, aquele que tem treze anos já não pode,
ou melhor, já não tem mais este valor. Este valor, segundo observações que
fizemos no mercado, acompanhando a venda de veículos com essa idade nas
empresas, tanto públicas como privadas, esses ônibus terão no máximo um valor
residual de 5%.
Concretamente,
se fôssemos raciocinar em termos do dinheiro de hoje, nós veríamos que um
ônibus, um veículo híbrido, que é aquele que serve de parâmetro para o cálculo
da tarifa, se hoje um veículo híbrido custasse, como de fato custa, dezessete
milhões e alguma coisa, o valor residual de um ônibus de treze anos, ele gira
em torno, um valor médio, pode ser um pouco mais ou um pouco menos, mas um
valor médio em torno de um milhão ou um milhão e cem cruzeiros, o que não é
nunca aqueles 20% dos dezessete milhões.
Por
outro lado, nós estivemos fazendo uma observação profunda e um estudo
aprofundado sobre a composição da nossa frota aqui em Porto Alegre. E é de todo
sabido que a frota desta Cidade, não é de hoje, ela apresenta uma idade média
bastante avançada. Tanto no sistema global de transporte como particularmente
em algumas empresas, onde a situação pode ser mais grave que outra, onde a
frota pode ser mais velha. Nós podíamos dizer, assim, em princípio, que há empresas
com uma frota bastante nova e outras com uma frota bastante envelhecida, e a
média, então, dá uma frota, eu não diria obsoleta, mas quase que vetusta para a
idade e os propósitos que se requer.
Dentro
dessa realidade, com essa frota e com essa idade que ela tem, ficou claramente
comprovado que esse item de depreciação, mesmo se juntássemos aí a própria
remuneração do capital, já não teria a dimensão e já não seria suficiente para
que a frota se renovasse automaticamente. Esse mecanismo de renovação de frota
por dentro da planilha, ele funciona perfeitamente quando a frota é nova. E aí
se entende por que o valor de depreciação dos veículos novos ou quase novos é
grande, é suficiente para que, separado esse dinheiro e colocando ele de lado,
o empresário ou a operadora pública possa, no momento em que vai cobrando a
tarifa, ir renovando também a sua frota. A partir de uma certa idade, isso não
é mais possível, porque, como eu disse e repito, aquele item não tem mais a
dimensão que deveria ter para renovar a frota.
O
que nós pensamos num determinado momento? Nós achamos que era uma anomalia
termos essa frota de mais de dez anos rodando e transportando passageiros e sem
nenhuma remuneração, porque a lei dizia que a remuneração deveria ser até dez
anos e não contemplava nenhuma depreciação naqueles outros três anos de vida
facultativa que o carro tem. Pareceu-nos então que seria possível, para
resolver esse problema e para não deixar que o transporte se transformasse em
alguma coisa autofágica, propor também algum mecanismo de depreciação para esse
tipo de frota. Mas aí nós vimos, imediatamente, que essa posição, embora
tecnicamente possível, ela não seria nem política e nem administrativamente
correta. Por quê? Se nós começássemos a dar algum valor residual de depreciação
para esses veículos com mais de dez anos, esse valor seria muito pequeno, e
cristalizaríamos na Cidade esse tipo de transporte com frota envelhecida.
Porque não é só a questão da dimensão do item depreciação que entra em causa
aqui, o problema da manutenção também se torna muito grave.
Todos
nós sabemos, e isto acontece até nos carros particulares de cada um, que,
quanto mais velho for o veículo, maior é a despesa de manutenção. E vice-versa,
sendo um veículo novo. Uma empresa como a Tinga, por exemplo, certamente tem na
sua planilha de custo contempladas todas as suas despesas com o item
manutenção. Uma empresa que tem uma frota mais velha, já não contempla na
planilha aquele item de manutenção, porque as peças e acessórios vão se
transformando em algo insuportável para a economia do sistema. Sendo assim, a
nossa decisão foi no sentido contrário, no sentido de, por um lado, determinar
que a frota de Porto Alegre fosse objeto de renovação acelerada, tendendo a
diminuir a idade média e, conseqüentemente - aí vem a importância dessa decisão
-, aumentando na planilha esse item de remuneração de recessão. E assim
começamos a proceder.
Vejam
os senhores, então, os grandes números que nós temos pela frente. Isto pode
mudar em uma unidade ou outra de um dia para outro, porque todos os dias estão
saindo e entrando ônibus no sistema. Mas, no momento em que nós vivemos essas
anotações, a realidade que tínhamos era esta: uma frota total de mil,
quinhentos e vinte e sete ônibus; dessa frota, quatrocentos e oitenta e um
veículos com mais de dez anos e cento e cinqüenta e oito veículos completarão
dez anos até dezembro de 1991. Se persistir esse quadro e essa tendência,
certamente nós projetaríamos, talvez não para o universo desta Administração,
mas da outra que virá a seguir, dentro da alternância democrática do poder de
dirigir o nosso País, projetaríamos um sistema de transporte sem futuro,
obsoleto ou autofágico, pois essa frota, com essa idade, não tem capacidade de
auto-renovação.
Neste
contexto, parece-nos que o mais correto não era nem voltar atrás, tentando
remunerar, talvez com justa razão, essa frota velha de onze, doze, treze anos,
nem ficarmos parados no lugar onde estávamos, mas avançar, determinando que a
frota da Cidade não possa ter mais do que dez anos. E que se retire do cálculo,
porque não tem valor real, essa frota com mais de dez anos, e que se retire
também essa frota de circulação, na medida em que o cronograma de entrada de
novos veículos comece a ser posto em prática. O nosso embasamento técnico para
adotar esta política baseia-se no seguinte pressuposto: (Lê.)
“Na atual planilha tarifária
estabelecida por lei, os índices de depreciação e remuneração reservados para
renovação e ampliação da frota são definidos por índices: índice de depreciação
e índice de remuneração. Ainda, de acordo com a lei, esses índices são
definidos através de uma média aritmética ponderável, na qual os veículos são
classificados segundo a sua idade, enquanto os pesos de cada faixa etária são
definidos segundo a escala decrescente dos primeiros números naturais. Até o
limite da vida útil também está definida por lei, que é de dez anos. A
sobrevida de três anos, definida pela Lei nº 4.718, de 15 de janeiro de 1980, é
facultativa, mas não obrigatória, pois trata-se de uma exceção e não de uma
regra.”
Aqui
abro um parêntese: esta exceção estava e está se transformando em regra na
Cidade. Então, como o empresário e o operador têm essa faculdade de poder rodar
com esse ônibus com mais de dez anos, ele termina não fazendo a renovação
naquele momento em que ela deveria ser feita, que é quando o veículo chega ao
teto máximo de idade, que são aqueles dez anos.
Constituem
praticamente um terço da frota, e o índice resultante será tanto menor quanto
maior for a incidência desses recursos. Resumindo, poderíamos afirmar que a
manutenção deste critério resulta, conseqüentemente, na manutenção da atual
tendência de envelhecimento da frota, pois um verdadeiro círculo vicioso está
formado: menos recursos de depreciação e remuneração resultam em menos ônibus
renovados, o que, por sua vez, resulta em menos recursos de depreciação e
remuneração. E assim por diante. Esta era, então, em linhas gerais, a situação
em que se encontrava o transporte coletivo da nossa Cidade, dentro desse círculo
vicioso, até a decretação dessa tarifa, porque a idade de frota não dava uma
dimensão de depreciação necessária para que ela se renovasse, e, em não se
renovando, continuava envelhecendo, em envelhecendo, esse índice de remuneração
continuava decrescendo, é a autofagia em que o sistema mergulhou. Quando
adotamos esta política de renovação de frota, não o fizemos por simples
voluntarismo ou porque precisássemos resolver um problema emergencial, fizemos
baseados em possibilidades reais de renovação, seja através de contratos já
assinados, seja através de compra de veículos já definitivamente contratados.
Quero
citar para os senhores, a título de exemplo, embora não seja o mais
elucidativo, mas não poderia deixar de fazer, a situação da CARRIS, que, além de
ser uma empresa pública centenária, é a maior empresa do sistema em Porto
Alegre. A CARRIS tem, hoje, trinta e dois ônibus com mais de dez anos de idade.
Não é a situação mais típica do sistema, há empresas privadas e públicas, como
no caso da Sopal, que tem uma frota muito mais velha, mas o caso da CARRIS
serve como exemplo, porque o cronograma de renovação dessa frota da CARRIS é o
seguinte: a CARRIS recebe, no mês de maio, dois veículos, e em junho, julho e
agosto, respectivamente, recebe dez veículos; com isso ela completa, dentro do
prazo previsto por nós, antes mesmo do prazo previsto por nós, a retirada de
circulação desses veículos com mais de dez anos.
As
pessoas hão de dizer assim: “Mas tiraram esses veículos do cálculo, mas não
tiraram da vida?”. Eu, se tivesse essa frota disponível, no momento em que
tomei essa decisão, eu teria feito, mas nós sabemos qual o ritmo de produção
desses equipamentos no País e quais são as disponibilidades financeiras do
sistema. Não era possível fazer isso simultaneamente, mas era possível
constranger o sistema e as operadoras, tanto públicas como privadas, a num
prazo bastante exíguo fazerem esta renovação de frota, e deixamos, então, esses
veículos emergencialmente, provisoriamente circulando na Cidade, porque ninguém
iria subtrair de Porto Alegre só por um decreto ou por uma portaria
quatrocentos e oitenta e um veículos sem ter nada para colocar no seu lugar.
Parece-nos que, fundamentalmente, essa política constrange, obriga e induz as
operadoras a renovarem a frota nesse prazo por nós determinado. Com a frota
renovada, tenham os senhores a certeza, baixamos consideravelmente a idade
média do veículo e, daí, sim, dentro da própria planilha...
O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Sr. Presidente, pedindo escusas ao nosso
Secretário Municipal dos Transportes, Dr. Diógenes Oliveira, eu apenas, já que
pedi interrupção do tempo do Sr. Secretário, eu gostaria, talvez, por eventual
omissão da Mesa Diretoria dos trabalhos - e neste sentido eu indago -, que se
formulasse o quesito básico feito no meu Requerimento de convocação do Sr.
Secretário à Casa, porque eu tenho a impressão, com todo respeito, ainda que
sejam relevantes os assuntos que estão sendo tratados pelo Sr. Secretário, ele
foge da questão central e do quesito que eu formulei e que foi objeto da
convocação do Sr. Secretário Municipal dos Transportes por aprovação unânime
desta Casa. Gostaria que V. Exª lesse até para que pudéssemos colaborar com o
Sr. Secretário a fim de que ele respondesse à pergunta objeto do quesito.
O SR. PRESIDENTE: Informamos ao Sr. Secretário que
ele dispõe ainda de trinta e quatro minutos e quarenta e quatro segundos para a
sua exposição, e o quesito básico é prestar esclarecimentos a respeito do
cálculo tarifário que resultou na fixação da tarifa de transporte coletivo em
Cr$ 75,00.
O SR. ADROALDO CORRÊA (Questão de Ordem): Eu creio que a resposta do Sr. Presidente ao Vereador que o interpelou
em Questão de Ordem é de que a Questão de Ordem é improcedente. Eu queria
registrar, nesta Questão de Ordem, que, do meu ponto de vista, pelo que tenho
acompanhado, é improcedente, dado o quesito lido por V. Exª, a Questão de Ordem
do Ver. Isaac Ainhorn.
O SR. PRESIDENTE: Com todo o respeito, a Mesa interpreta como procedente. E gostaria de
dizer o seguinte, como o Sr. Secretário dispõe de trinta e quatro minutos, e
essas exposições são preliminares, posteriormente descerá a esses detalhes, nós
entendemos como completa a colocação.
O SR. ADROALDO
CORRÊA: Sr. Presidente, eu lhe pergunto se o Senhor julgou
procedente a minha Questão de Ordem, se julgou improcedente a do Ver. Isaac
Ainhorn.
O SR. PRESIDENTE: Nós recebemos a Questão de Ordem de V. Exª e julgamos procedentes todas
as Questões de Ordem, até porque...
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, quando solicitei esta Questão de Ordem, V. Exª entendeu
muito bem e agiu com grande correção, apenas para colocar aquela questão
central. V. Exª não é juiz nem magistrado para estar julgando “Questão de
Ordem”, V. Exª responde na sua função objetivamente e deu o encaminhamento à
solicitação deste Vereador, que é uma aspiração da maioria dos Vereadores desta
Casa que acenaram positivamente com esta posição que eu, na condição de
requerente, solicitei a V. Exª. Muito obrigado.
O SR. JOÃO DIB
(Questão de Ordem): Sr. Presidente, eu quero colocar ordem na questão,
eu estou ouvindo com toda a atenção o Sr. Secretário que está respondendo o
quesito, sem nenhum problema.
O SR. PRESIDENTE: Nós gostaríamos de deixar claro que esta Mesa também entendeu que está
respondendo e que está passo a passo, e a Questão de Ordem do Ver. Isaac
Ainhorn foi apenas para reforçar a tese. Nós entendemos perfeitamente a
colocação de todos os Vereadores.
O SR. CLÓVIS BRUM
(Questão de Ordem): Acho que a preliminar está sendo exposta pelo Sr.
Secretário; ao final, vai responder na íntegra o quesito do Ver. Isaac. Eu até
perguntaria, Sr. Presidente, com a vênia do Sr. Secretário, se nesta exposição
preliminar ele poderia ou não fornecer a idade média das frotas da São João,
Sopal, Estoril, Cia. Carris e Tinga. Se pudesse, eu ficaria grato.
O SR. PRESIDENTE: Nobre Vereador, nós gostaríamos de deixar consignado o seguinte: já
estão inscritos uma série de Vereadores e estas são colocações que serão feitas
no momento oportuno, inclusive estamos com o tempo paralisado para garantir o
tempo.
Com a palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES
OLIVEIRA: Sem entrar nesta polêmica específica da pauta, eu
queria me referir ao seguinte: o cálculo de uma tarifa de ônibus, ele nunca
pode ser analisado e visto isoladamente do seu contexto. Porque o que eu estou
tentando explicar para os senhores é essa influência significativa, decisiva
que tem, por exemplo, a idade da frota para a composição do custo. Porque se
nós tivéssemos aqui, na Cidade, uma frota absolutamente envelhecida de dez ou
de treze anos, provavelmente a nossa tarifa fosse mais barata do que ela é, mas
o sistema estaria na sua fase terminal, porque não teria na composição dos
custos nenhuma depreciação que permitisse a renovação dessa frota. Porque eu
repito, um ônibus que completou dez anos, ele não recebe mais esta depreciação.
Então, quando a frota é nova,
este item aumenta significativamente porque justamente previu o legislador e
previram os estudiosos que, em não havendo subsídio para o sistema de
transporte, deva ser ele renovado pela própria tarifa dentro do esquema de
curso intrínseco. Vejam os senhores que também nós não podemos dissociar a
questão da tarifa em relação ao modelo operacional. Se concebermos aqui em
Porto Alegre uma operação integrada, corretamente feita, um modelo
tronco-alimentador, com algumas linhas mestras e algumas linhas subsidiárias
como, de resto, existe em todo mundo, isso certamente terá uma grande
influência na tarifa. É por isso que eu repito: a tarifa de ônibus não é só uma
questão de ponderação de preços; é preciso que se analisem, muito
cuidadosamente e com muita isenção de ânimo, os custos do sistema. E deveremos
saber, por definição matemática, que depreciar e remunerar uma frota mais nova
é bem mais caro do que depreciar e remunerar uma frota absolutamente
envelhecida. Mas devemos saber, também, em contrapartida, que uma frota
envelhecida e não convenientemente depreciada e remunerada, não permite a sua
auto-renovação e isso coloca o Poder Público perante a realidade inexorável de
ou resolver essa questão da depreciação ou subsidiar o sistema, porque não há
nenhuma outra fonte de receita no sistema nem nenhuma isenção fiscal da parte
do Governo Federal.
Eu sempre digo que nós, aqui, no
Brasil, conseguimos conceber esse modelo onde se pode comprar um táxi com um
nível de subsídio bastante grande - e eu até acho que está certo, porque o
taxista é um trabalhador e porque o preço do veículo é muito alto -, mas esse
mesmo incentivo fiscal que tem o táxi, não tem o ônibus, e o ônibus é comprado
a valor de mercado, seja através de sistema de financiamento de leasing
e, agora, mais modernamente, quase que exclusivamente via consórcio, porque
nenhuma operadora do sistema consegue juntar dinheiro para comprar uma frota à
vista.
Então, eu não quero fazer uma
grande divagação sobre isso, mas quero me referir a esses aspectos para que se
entenda, profundamente, no detalhe e com toda transparência possível, a
política que essa Administração está seguindo para encarar o problema do
transporte coletivo na sua qualidade, na sua prestação de serviços correta e à
altura daquilo que a população exige.
O SR. PRESIDENTE: Srs. Vereadores, esta Mesa constatava, há poucos minutos, oito
assessores de Vereadores junto com os Srs. Vereadores e transitando bastante
aqui dentro, o que tem prejudicado o andamento dos trabalhos, até porque poucos
assessores estão, neste momento, fazendo este tipo de procedimento e nós
rogamos encarecidamente aos assessores que, para o bom andamento da exposição,
evitem ao máximo o trânsito dentro do Plenário. Sou grato.
O SR. MARTIM ARANHA
FILHO (Questão de Ordem): Sr. Presidente, não sei se foi
por causa do trânsito aqui na frente, devo ter perdido alguma coisa,
principalmente no que se refere à definição de depreciação. Se o nobre
expositor pudesse, em rápidas palavras, só para não perder o fio da meada,
saber o que é realmente depreciação no entender do Sr. Secretário.
O SR. PRESIDENTE: Antes de passar a palavra ao Sr. Secretário, nós gostaríamos de informar
os Srs. Vereadores que estão inscritos até o presente momento, os Vereadores
João Dib, Vieira da Cunha, Décio Schauren, Edi Morelli, Martim Aranha Filho,
Clóvis Brum, Isaac Ainhorn e Clovis Ilgenfritz. E que, posteriormente, estas
colocações também podem ser feitas. Sr. Secretário, mais trinta minutos com V.
Exª.
O SR. DIÓGENES
OLIVEIRA: Eu queria, então, continuar minha exposição
dizendo o seguinte: a composição da tarifa tem uma ligação profunda com o
modelo operacional. Nós não podemos dissociar, por exemplo, a questão do
transporte transversal do preço da tarifa, porque sabem os senhores que, na
verdade, esse tipo de transporte, além de poupar um tempo enorme ao passageiro,
evitando uma passagem desnecessária ao Centro da Cidade, ele evita a dupla
tarifação. Então, as linhas transversais, que são aqui um monopólio do Poder
Público, certamente devem incidir num barateamento da questão do preço final da
passagem.
Eu queria ainda referir aos
senhores a questão das comparações que muitas vezes se faz, nós todos somos
tentados a fazer, entre as tarifas de ônibus das Capitais. Fazemos muitas vezes
comparações em termos absolutos sem nos fixarmos nos componentes da tarifa de
cada uma. Vejam, por exemplo, essa questão da mão-de-obra. Quando se diz que passagem
de ônibus em São Paulo é de Cr$ 100,00 - é Cr$ 100,00 -, nós precisamos saber
quanto ganha o trabalhador paulista e quanto ganha o nosso, porque o preço da
tarifa, o preço final de uma passagem é consumido entre 50, 55 e às vezes até
60% no item salários. Então, é evidente que nos lugares onde os salários são
mais altos, impreterivelmente a tarifa também terá que ser mais alta. O preço
das tarifas depende muito das suas datas, da data de fixação dessa tarifa.
Gostaria de citar, só como
ilustração, o caso de Curitiba. Curitiba, é sabido, tem um modelo operacional
tido como padrão, exemplo para todo o Brasil. Remuneração por quilômetro,
planejamento de linhas bastante aprofundado e uma cidade também planejada, cujo
centro geográfico coincide com seu centro econômico, com o centro
administrativo e com o seu centro político. A tarifa de Curitiba está Cr$
70,00, a nossa aqui está Cr$ 75,00. Então, aparentemente, isto é um
contra-senso, porque lá onde o custo certamente será menor e onde a Cidade é
mais planejada, eles teriam uma tarifa mais barata do que a nossa. Mas vejamos
o que acontece na realidade: essa tarifa de Curitiba passou a vigorar no dia 03
de fevereiro, enquanto a nossa aqui no dia 04 de fevereiro teve um valor de Cr$
65,00, depois reduzido na Justiça, em função do denominado plus tarifário, do dia 03 de fevereiro
até o dia 02 de abril para Cr$ 53,77. Este tempo de diferença de defasagem faz
com que a nossa tarifa, hoje, aqui, de Cr$ 75,00, em valores absolutos
arrecadados, ainda seja uma tarifa menor do que aquela de Curitiba ou pelo
menos igual.
Cito este exemplo para esclarecer
aos Srs. Vereadores sobre, muitas vezes, essas comparações que se vê muitas
vezes na imprensa sobre o preço da tarifa na capital. É preciso relativizar
isso, relacionar isso com as datas em que estas tarifas foram fixadas e
relacionar isso, principalmente, com os salários dos trabalhadores rodoviários,
para que nós não incorramos em erro de comparar coisas que não são iguais. E
esse me parece um bom exemplo.
Mas eu quero me referir ainda ao
problema da frota de Porto Alegre e da sua influência imediata e direta da
composição do custo da nossa tarifa. Sabem todos que Porto Alegre tem
consagrado na vida e na lei a tarifa única da qual, evidentemente, ninguém
pensa em abrir mão. Esta tarifa única contém dentro de si um poderoso mecanismo
de subsídio interno, e o princípio socialmente justo é que as pessoas que moram
mais perto do Centro ou, aparentemente pelo menos, possam pagar mais, subsidiem
as pessoas que moram um pouco mais longe. Quando nós vamos abordar essa
questão, nós nos deparamos com linhas e empresas que tem uma tarifa bastante
menor que aquela tarifa geral do sistema e linhas que têm uma tarifa
infinitamente maior. E o mecanismo de repasse desse subsídio se dá através de
uma câmara de compensação que antes era gerida pelas empresas privadas através
do consórcio operacional porto-alegrense e, agora, por força da Lei Orgânica, é
gerida pelo Município através de uma câmara de compensação.
Mas, não é só esse o subsídio
interno que tem a tarifa. Se nós formos olhar o subsídio interno que o nosso
usuário paga ao estudante, através de um cálculo simples e rápido podemos
concluir que, em cada passagem de Cr$ 75,00 paga pelo trabalhador, há um
subsídio de Cr$ 6,00, porque ele paga a metade da tarifa. Nada contra o
estudante, estou apenas citando isso como exemplo para que nós possamos
entender o nível de subsídio interno que existe dentro da própria tarifa, de
uns pagarem.
Outro assunto que também nos
chamou a atenção é o problema das isenções e das gratuidades que há no sistema
de transportes em Porto Alegre. Estamos fazendo um estudo para tentar
dimensionar as pessoas que entram nos ônibus e não pagam por força da lei. Não
temos um censo, por exemplo, dos isentos que entram pela porta da frente
simplesmente porque não são passageiros equivalentes, não passam pela roleta,
não pagam e não estão mensurados. Fizemos uma estimativa de que 10% dos nossos
usuários não pagavam a passagem e, agora, através de pesquisas, estamos chegando
à conclusão de que é um pouco mais. Há empresas que estão fazendo essa
pesquisa, queremos confirmar isso, mas parece que o nível de isenção tarifária
na nossa Cidade está por volta de 12%. Essas pessoas não pagam, seja porque são
idosas, seja porque estão abrangidas pela lei e beneficiadas para não pagar,
mas também geram um custo para o sistema.
A simulação que queríamos
convidar V. Exas para fazer é a seguinte: se em Porto Alegre não
houvesse a meia passagem e não houvesse a isenção e a gratuidade, a tarifa
calculada aqui não seria Cr$ 75,00, mas, sim, Cr$ 63,00. Estou dizendo isso não
para que seja tomado como uma crítica, mas para dar um exemplo de qual é o
nível de subsídio interno que tem a tarifa de ônibus na Cidade. Há situações
que por vezes nos parecem bastante complexas porque todo o esquema de
gratuidade, evidentemente, não diminui os custos do sistema, mas redistribui
esses custos pelos passageiros pagantes.
Temos, ainda, algumas questões
que nos parecem absolutamente anômalas e que interferem no preço final da
passagem. Vamos comparar a situação do vale-transporte. Sabem V. Exas
que o Município fornece, rigorosamente, o vale-transporte para todos os
servidores, inclusive para as professoras municipais. Já o Governo do Estado
nunca forneceu o vale-transporte para os seus servidores. Temos, então, a
anomalia de que a professora, por ser municipal, usa vale-transporte, e a
professora do Estado, que não tem vale-transporte, se beneficia da passagem
escolar. Acho que se o vale-transporte em Porto Alegre for corretamente
dimensionado e potencializado, ele poderá ter - como de fato tem - um poderoso
indutor para diminuir o preço final da tarifa, porque o vale-transporte, além
de ser um incentivo fiscal, ele não penaliza o trabalhador, no sentido de que
desconta no contracheque até 6% do seu salário, e o que daquilo sobrar paga o
patrão num primeiro momento e depois se ressarce o patrão através de uma
dedução na alíquota respectiva do pagamento do Imposto de Renda.
Todas estas coisas nos fazem pensar
que é preciso, de uma vez por todas, sairmos dessa discussão isolada de quanto
custa a passagem e fazer uma radiografia um pouco mais profunda do sistema:
qual é o custo real? Como essa frota se renova? Quem paga esse sistema e como
paga?
Eu quero dizer com isto que Porto
Alegre é uma metrópole que precisa mais do que abordar com exatidão, justiça e
com correção técnica o problema da tarifa, Porto Alegre precisa, de uma vez por
todas, abordar o modelo tarifário que nós queremos para nós, para a nossa Cidade.
É neste sentido que a nossa Administração vai começar de uma maneira muito
pequena, de uma maneira experimental, fazer uma coisa aqui, mais ou menos
inédita, que é possibilitar à população, no último domingo de cada mês, um
passe livre para que todos possam exercer a sua cidadania, conhecer a sua
Cidade justamente naquele último domingo onde o salário já acabou e às vezes
ainda faltam alguns dias do mês para que venha o outro salário.
Tenho ouvido da parte de muitas
pessoas a assertiva de que, se houver um domingo de passe livre, os outros
passageiros pagarão nos dias da semana para que naquele dia ninguém pague,
porque aquele dia tem custo. Evidentemente, aquele dia tem custo, nós vamos
trabalhar no dia 1º de maio com tabelas de domingo, que são bastante reduzidas,
na ordem de 40% ou 50%, dependendo das linhas, as pessoas não pagarão o óleo, a
mão-de-obra e tal. Queremos dizer que nesse período de tarifa não concedemos
nenhuma incidência de aumento na passagem para que haja esse passe-livre no último
domingo de cada mês. Fizemos um estudo profundo com as nossas empresas públicas
para ver se era possível eles abdicarem desse dia de receita. É uma receita que
não é grande, mas também não é desprezível.
Achamos que as empresas públicas,
racionalizando e economizando em outros setores, podem proporcionar essa
possibilidade para nossa população. E em relação às empresas privadas, nesse
período de tarifa, achamos que elas podem deduzir isso um pouco da remuneração
do seu capital, em função de que a Cidade comece a abordar essa questão da
tarifa com mais amplitude. Porque vai chegar o dia em que nós teremos que
entrar profundamente nesta questão, quem paga o transporte, como paga e se pode
pagar, para que de uma vez por todas a Cidade saia da polêmica que às vezes se
torna muito isolada e muito unilateral de quanto custa a passagem e compará-la,
aquela tendência inexorável que nós temos de comparar a passagem com os
salários. E aí nós sabemos e vemos diariamente o achatamento salarial, o
arrocho, o empobrecimento da população e às vezes temos a tendência de querer
levar o transporte por esse mesmo patamar e aí o transporte então não teria
arrocho salarial, mas seria sucatado. Nós já fizemos isso, mas não foi uma boa
experiência para nós, não foi positiva. Quando a gente opera um serviço dessa
natureza e não cobre os seus custos, a tendência é a degradação, a deterioração
e o sucatamento da frota.
No cálculo dessa tarifa de Cr$
75,00, então - aqui começo a finalizar a minha intervenção -, nós o que fizemos
fundamentalmente foi o seguinte: mandar retirar de circulação toda essa frota
envelhecida de quatrocentos e oitenta e um veículos com um cronograma muito
rígido de renovação dessa frota. E aqui, diga-se de passagem, há certas
possibilidades que nós estamos incluindo no nosso relatório de hoje, mas que
evidentemente já podem ser tidas como concretas na nossa Cidade, que é um amplo
esquema de renovação de frota via financiamento do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, da ordem de centenas de carros, porque
outras cidades brasileiras já estão fazendo isso. Eu acho até que já estamos
atrasados nesse esquema, mas não é tarde para incrementá-lo ainda neste ano.
A Cia. Carris Porto-Alegrense,
por exemplo, acabou de ver aprovado um financiamento para compra de cinqüenta e
três veículos via BNDES-Finame, veículos esses que serão entregues na
potencialização de algumas transversais existentes hoje que estão em vias de
saturação e na criação de uma nova linha transversal. Eu acho que é o grande
futuro e a grande possibilidade do transporte em Porto Alegre, que é a T-7, uma
nova linha transversal que ligará toda aquela região do Beco do Carvalho com o
Sarandi. E, em relação ao sistema privado, temos também o grande projeto de
muda ao modelo operacional na Zona Sul, criando ali uma grande linha tronco em
“8” se deslocando entre as Radiais 10 e 20.
Todo este esquema nos deixa
prever a possibilidade de que Porto Alegre, dentro de um ano, tenha uma frota
renovada e que, na sua depreciação, na remuneração do seu capital, vai compor
dentro da planilha uma dimensão que permita que essa frota, de agora em diante,
se renove de uma maneira correta, de uma maneira cadenciada, à altura das
necessidades da frota e do serviço que devemos prestar à nossa população. O
cálculo propriamente dito de tarifa que fazemos em Porto Alegre é baseado não
só na Lei aprovada nesta Câmara, como esta Lei e esta metodologia são oriundas
de orientações nacionais do Geipot e do IPTU, mas principalmente a planilha do
Geipot e a Lei fundamental na qual nós nos baseamos para operar, que serve como
indicador fundamental para operar a nossa política de tarifas de ônibus de
Porto Alegre, a Lei nº 058/91, que todos os senhores conhecem.
Não sei se nós iremos, talvez,
depois, através da assessoria técnica da SMT, de acordo com o rumo que os
debates e os esclarecimentos forem surgindo, fazer um detalhamento técnico,
item a item, dos custos do sistema. Poderemos até fazer isso, mas não acho que
seja este o caminho que nos elucide, que eleve o debate e que nos proponha uma
política e uma diretriz geral para a solução dos macroproblemas que tem o
transporte coletivo na Cidade.
Da nossa parte, queríamos dizer,
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, que nos sentimos honrados de ter vindo aqui,
convocados que fomos para prestar estes esclarecimentos, e gostaríamos de ter
em mãos todos os elementos possíveis para elucidar dúvidas ou indagações que
por ventura venham a surgir, mas fica reafirmado que, se algum dado técnico nós
não dispusermos aqui no momento, a Secretaria Municipal dos Transportes estará
sempre à disposição para, ou pessoalmente, através da visita de Vereadores, ou
através de pedidos de informação, conforme os mecanismos regimentais da Casa,
fica então esta nossa disponibilidade para que tudo seja informado e
esclarecido com toda a transparência. Da nossa parte, como introdução, eram
estas as palavras que queríamos dizer. Pedimos desculpas por alguma lacuna ou
pelo tempo que tomamos dos senhores. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a
palavra o Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Sr. Secretário,
Srs. Vereadores, ontem, num discurso, eu dizia que estranhos são os caminhos e
descaminhos da vida. E, hoje, eu poderia usar da mesma crueldade que o eminente
Secretário usava para com o Prefeito João Dib quando criticava acerbadamente os
reajustes tarifários que eram explicados sem nenhum problema para a FRACAB,
CUT, não sei quantos mais. Mas o Ver. João Dib não vai fazer isso, até porque o
Ver. João Dib aprendeu lá na Secretaria dos Transportes como se calcula tarifa
e ele poderia falar nos dados que foram trazidos aqui pelo Engenheiro Davi
Ovadia numa tabela colocada lá e distribuída a cada um dos Vereadores. Poderia
falar sobre PNN, IPK, frota, poderia falar em dados fornecidos pelo Secretário,
isenção, por força de lei, para usuários de transporte coletivo urbano, que ele
acha que é 12%, e o Prefeito Olívio Dutra, sem lei, sem nada, por determinação
majestática, vai acrescer 2% nos 12% a partir do dia 1º de maio.
Eu poderia dizer que eu não
entendo o porquê da crítica ao vale-transporte, quando o vale-transporte é um
abono de receita boa e que não reduziria em nada a tarifa, mas eu vou preferir
fazer uma pergunta apenas, uma colocação apenas, já que nós falamos tanto em
lei, em transparência, em facilidades - transparência e facilidades que, até,
às vezes, eu tive que buscar na Justiça -, mas, Secretário nós temos um
Projeto, uma Lei, na sua maior parte do Ver. Glênio Peres, o Prodescol, e, se
utilizado convenientemente, não teríamos a renovação da frota em seis meses, um
ano ou dois anos, mas nós aceleraríamos e muito, e o passado prova que é
verdade.
Não estou criticando a
Administração, porque, como Prefeito, tentei terminar com o Prodescol.
Portanto, não o utilize. Mas, se utilizado, é lei, um direito das empresas de
terem um retorno dos 2,5% de ISSQN. Por que a Administração, ao invés de fazer
toda essa mistura de números, de explicações, por que a Administração não usou
desde logo o Prodescol? E até encaminhando um projeto de lei à Câmara,
ampliando os benefícios do Prodescol, aí teríamos a coisa mais clara, uma
tarifa correta, fácil de ser analisada, sem os riscos de examinar todos os
números que nos são colocados à disposição.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Eu não
critiquei o vale-transporte. Acho que fui mal entendido, acho que nós devemos
desenvolver uma política no sentido de fortalecer e ampliar o vale para
segmentos importantes da população que ainda não o tem, como é o caso dos
professores estaduais, que se utilizam da passagem escolar porque não lhes é
concedido esse benefício legal. Acho que não me fiz entender corretamente.
Segundo, a questão do Prodescol, temos examinado, e vários Vereadores já
sugeriram esta questão, o Ver. Wilson Santos e outros, e hoje a realidade do
nosso sistema de transportes é um pouco diferente, porque, primeiro, muitas
empresas estão inadimplentes com o pagamento do ISSQN. Então, seria uma ficção
dar uma coisa que elas não têm ou não pagam.
Não estamos, talvez, procedendo com aquele rigor na execução fiscal
disso aí, justamente levando em conta algumas debilidades que o sistema
apresenta, principalmente em alguns encargos sociais, podendo se tornar
questões graves, como é o caso do pagamento do IAPAS e do Fundo de Garantia,
mas nos parece, também, que se nós potencializássemos o Prodescol, e não é uma
idéia descartável, absolutamente, mas mesmo assim ele não teria dimensões
necessárias para enfrentarmos a magnitude do problema que temos aqui, porque o
Prodescol tinha outras variadas fontes de recursos que não só a fonte de
isenção de ISSQN. Não tenho a composição e a estrutura da origem desses
recursos, mas me parece que haviam recursos substanciais da EBTU, à época, que
poderiam ser utilizados no programa de desenvolvimento dos transportes
coletivos.
De parte da PMPA, a única que se poderia efetivamente encarar era
destinar os 2,5% de ISSQN cobrado sobre o custo do quilômetro para uma possível
renovação de frota, mas seria uma medida intermediária, pois ela não iria no
âmago das nossas questões para possibilitar a renovação da frota da maneira
como hoje se requer.
O SR. MARIO FRAGA (Questão de Ordem): V. Exª falou que o ISSQN estava atrasado? Confirma
isso?
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Não tenho os dados atualizados da Secretária da
Fazenda, mas lembro-me de que se chegou até a publicar uma relação de empresas
devedoras. A Cia. Carris historicamente utiliza esses créditos do ISSQN como
aumento de capital.
O SR. MARIO FRAGA: Sr. Presidente, não me foi
respondida a questão. Perguntei se alguma empresa hoje está com ISSQN atrasado.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Não tenho aqui dados
atualizados. Em 1990, foi publicada uma lista de empresas, não só de
transportes, outras também, que deviam ISSQN. Confirmo que a CARRIS se
utilizou, via autorização legislativa, desse recurso do ISSQN não pago, como
aumento de capital.
O SR. MARIO FRAGA: Mas em 1990 a Administração Popular já estava no poder. O passageiro
paga o ISSQN em dia.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa observa que V. Exª, Ver.
Mario Fraga, pela terceira vez usa a tribuna colocando uma Questão de Ordem.
Informamos que, não se tratando de Questão de Ordem, seria melhor V. Exª
inscrever-se para posteriores perguntas.
O SR. MARIO FRAGA: Aceito, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Luiz Braz. Logo após, o Ver. Vieira de Cunha, pela
ordem de inscrição.
O SR. LUIZ BRAZ (Requerimento): Sr. Presidente, requeiro que seja votada a redução
de tempo para cada Vereador. Assim, no lugar de dez teríamos cinco minutos.
O SR. PRESIDENTE: Em votação, pois V. Exª vem contribuir para o bom andamento dos
trabalhos. É regra do Regimento.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, o Ver. Vieira da Cunha aceita os cinco minutos por
opção. Gostaria que fossem assegurados os dez minutos, conforme o Regimento
Interno. Acho que deve ficar assegurado ao Vereador questionador o direito de
réplica para esclarecimentos, se assim entender.
O SR. PRESIDENTE: V. Exª foi o Vereador questionador e tem toda a razão.
O SR. CLÓVIS BRUM: À luz do Regimento Interno,
prefiro que me fique assegurado.
O SR. PRESIDENTE: A palavra com o Ver. Vieira da Cunha pelo tempo de cinco minutos.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente, é que, independente do tempo que o
Vereador utilizar para o questionamento, se não utilizar os dez minutos, esta
Mesa entende que o seu tempo está esgotado, seja cinco ou dez minutos.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Vieira da
Cunha.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente e
Srs. Vereadores, Sr. Secretário, eu confesso que tive muitas dificuldades de
entender, interpretar esses cálculos que levam a Administração a majorar para
Cr$ 75,00 o preço da tarifa atual em Porto Alegre. Cumprimentei, inclusive, o
meu companheiro de Bancada, Ver. Isaac Ainhorn, quando solicitou que o Sr.
Secretário viesse à Casa e imaginei que aqui o Sr. Secretário me convencesse de
que cálculo está correto.
Quero dizer ao companheiro
Diógenes que me frustrei, não recebi aqui um elemento sequer que me convencesse
da legalidade do cálculo tarifário que resultou no preço de Cr$ 75,00. Eu digo
legalidade, porque já é discussão do passado a questão da tarifa real e da
tarifa justa. Esta discussão, pelo menos em Porto Alegre, está suspensa porque
há uma Lei em vigor, uma Lei que trata, que estabelece uma metodologia de
cálculo que deve ser respeitada. Analisando a Lei que está em vigor e que deve
ser respeitada pelo Executivo e tendo em vista a nossa função de legislador,
que é exatamente de fiscalizar o Executivo e fazer com que o mesmo execute e
cumpra as leis em vigor nesta Cidade, eu comecei a raciocinar como se poderia
conceder um aumento tarifário de quase 40% quando todos os itens que compõem
custo do transporte coletivo da cidade de Porto Alegre estão congelados, como o
óleo, o pneu, como o chassi, a carroceria, os mesmos preços vigentes em
fevereiro são os vigentes em abril. E como é que, com base num reajuste para a
categoria rodoviária, se pode elevar em 40% a tarifa? Socorri-me dos técnicos,
que foram unânimes em dizer que o reajuste à categoria rodoviária, na forma e
nos percentuais que foram concedidos, implicaria no máximo em, uns diziam 11,
outros 12%, mas por volta de onze por cento seria o reflexo do reajuste à
categoria rodoviária no preço da tarifa. Jamais 40%.
Portanto, entendia que o Sr.
Secretário hoje nos trouxesse novos dados. Na verdade, o Sr. Secretário fez uma
análise do sistema de transportes como um todo. E trouxe aqui uma indignação
que também é a minha, sobre a tal da sobrevida útil do sistema de transportes
da Cidade. Lembra o Secretário que quando, em 1986, estive aqui, na condição de
suplente, propus um Projeto de Lei, deve estar em algum arquivo ou alguma
gaveta, apesar das mudanças da Câmara, encerrando com essa possibilidade de
sobrevida útil, entendendo, já naquela época, que isto era uma forma de retirar
do usuário aquele direito que ele tinha do ônibus novo a partir dos dez anos. E
por uma liberalidade desta Casa, que aprovou sucessivos projetos de lei que
acabaram colocando um ano, depois dois e até três anos de sobrevida para o
veículo de transporte coletivo da Cidade, quando o usuário já pagou naqueles
dez anos por um veículo novo. Então, o usuário acabava usando um veículo velho
quando pagava por um novo.
Mas, agora, a Administração, ao
invés de corrigir isso que eu também acho que é um vício, ratifica. E por quê?
Porque através de uma Ordem de Serviço o Prefeito manda retirar de circulação,
da frota, aqueles que têm mais de dez anos, o que nós devemos nos solidarizar
com essa ordem de Prefeito, mas o Secretário, por Portaria, dá um prazo de seis
meses para que isso ocorra, prorrogável por mais seis. E o que é grave, no meu
ponto de vista, é que a Portaria subscrita por V. Sª dá um prazo de seis meses
para retirar de circulação os ônibus e retira imediatamente da composição do
cálculo tarifário.
Então, Sr. Secretário, aí eu
comecei a entender por que a tarifa teria ser levada aos Cr$ 75,00. Mas é
claro, o próprio Secretário, eu ainda anotei uma frase do Sr. Secretário hoje,
diz o seguinte: a idade da frota tem influência significativa na composição do
custo da tarifa. Disse o Secretário que se nós tivéssemos uma frota mais
envelhecida, certamente nós teríamos uma tarifa mais barata. Foram palavras
textuais do Sr. Secretário. Ocorre que nós temos uma frota envelhecida, e a
tarifa é cara por causa de uma penada da Portaria de 1º de abril. Por isso eu
já utilizei esta tribuna, companheiro Diógenes, para dizer que foi um “1º de
abril” mesmo na população usuária do transporte coletivo, que está sendo
lograda porque está pagando uma tarifa para ter uma frota muito mais jovem do
que tem.
Então, não é lógico, Secretário,
não é justo, Secretário, que a população pague uma tarifa para ter uma frota
menos velha e que continue usando essa frota envelhecida. Porque o Sr.
Secretário manda retirar imediatamente do cálculo tarifário essa frota com mais
de dez anos, imediatamente, e dá um prazo de seis meses, prorrogado por mais
seis, aos empresários, para que retirem de circulação esses ônibus com mais de
dez anos. Eu entendo que aí está o nó da questão. E eu não consigo sinceramente
me convencer de que essa medida foi uma medida acertada, de que esta medida é
uma medida justa e de que esta medida seja uma medida legal.
E aqui, também, uma Ordem de
Serviço do Sr. Prefeito Municipal, no dia 1º de abril, e a Portaria do Sr.
Secretário da mesma data, 1º de abril. Quer dizer, dois instrumentos no dia 1º
de abril. Houve uma agilidade peculiar que não é característica do serviço
público, nós sabemos.
Eu quero por fim finalizar, lamentando
que esta tenha sido a opção da atual Administração que se elegeu, nós sabemos,
com discurso totalmente diferente dessa prática. Eu lembro que, na campanha,
Olívio e Tarso acusavam o nosso Governo de fazer o jogo dos empresários, diziam
que Collares praticava tarifas caras em Porto Alegre, quando nós já comprovamos
que durante o triênio em que o PDT governou Porto Alegre a inflação foi maior
que o reajuste tarifário e, agora, a inflação, nesse mesmo período do Governo
Olívio Dutra, é bem inferior aos reajustes já concedidos ao sistema.
Finalizo dizendo que se a frota,
se o sistema de transporte fosse estatal, o seu raciocínio seria perfeito, pelo
menos seria aceitável. Agora, como a frota é predominantemente privada, é justo
que o usuário pague por esse locupletamento que tiveram os empresários com essa
sobrevida? É justo que o usuário arque com as conseqüências desse
envelhecimento da frota de Porto Alegre? De quem é a culpa de o sistema ter
atingido esse nível? Certamente não é do usuário. Pode ter uma parcela de
responsabilidade o Governo. Eu, pessoalmente, tenho convicção de que foi o
empresário; aliás, como também sustentava a atual Administração no início do
processo de intervenção, quando dizia que os empresários se locupletaram, que
desviaram recursos que deveriam ter colocado nas empresas de transporte,
criando empresas paralelas, enfim, desviando recursos próprios do sistema de
transporte para outras finalidades. Eu prefiro ficar com esse discurso, um
discurso que sempre tive e que a atual Administração já teve, mas que parece
que a ele renunciou, infelizmente. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Omar Ferri): Com a palavra o Sr. Secretário para responder às
indagações formuladas pelo Ver. Vieira da Cunha.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Eu diria, Ver.
Vieira da Cunha, com todo respeito, que a vida realmente é muito dinâmica e as
pessoas, às vezes, não têm um caminho pronto e fazem o caminho quando começam a
andar. O próprio Vereador pediu para falar cinco minutos e no meio da
intervenção resolveu mudar esse tempo para dez minutos, porque era o que
precisava para completar sua linha de raciocínio. Essas coisas elucidam um
pouco até as políticas que a gente delineia e que, muitas vezes, não são as
mais acertadas no primeiro momento.
Sempre digo que depois da
experiência que estou tendo na área de transporte, comecei a desconfiar um
pouco do Joãozinho do passo certo, daquele que sabia tudo, mas que, muitas
vezes, tendo responsabilidade, não fez o que seria o mais adequado. A frota de
Porto Alegre está realmente envelhecida e isso não é culpa do usuário. Não se
pode imputar ao trabalhador e à pessoa que paga a tarifa o envelhecimento dessa
frota, mas também não se pode dizer que ela tenha envelhecido precocemente
nesses dois últimos anos.
Isso é um processo histórico, nós
sabemos disso, é um processo onde podemos analisar o comportamento do
empresário, fizemos isso à exaustão, esta Administração entrou no âmago da
questão do transporte, dentro das empresas, através de um processo de
intervenção profundo e prolongado. Sabemos - e temos auditorias que comprovam -
que recursos foram desviados do setor para, muitas vezes, outras atividades
correlatas ou não ligadas ao transporte. Num determinado momento, nos demos
conta de que isso já era uma espécie de leite derramado, apesar de ter feito
auditorias, de ter feito intervenções, de ter entregue todas as nossas
conclusões ao Ministério Público, de ter andado, como andei, durante meses a
fio na Delegacia de Defraudações, nenhum tostão do que havia desaparecido,
historicamente, havia voltado para lá.
Então, era preciso não esquecer o
passado, mas tê-lo como lição e projetar uma política de agora para o futuro.
Efetivamente, eu não tinha a pretensão de convencer o Ver. Vieira da Cunha
sobre a correção ou os erros da política seguida. Ele disse que teve
dificuldades de entender, mas acho que entendeu perfeitamente, Vereador, achei
sua intervenção perfeitamente lúcida, uma intervenção que entrou no conteúdo do
problema. Nós, do Governo, e os técnicos da Secretaria Municipal dos
Transportes, principalmente o pessoal que trabalha na área de economia, os
técnicos da Cia. Carris Porto-Alegrense, pensamos muito e estudamos
detalhadamente essa questão e chegamos a formular a hipótese de se não era o caso
de a gente estabelecer uma depreciação para esse ônibus que têm aí, dez, onze,
doze, treze anos, mas vimos que isso seria uma política incorreta porque seria
cristalizar, seria corroborar a política de sucatamento, mas eles não eram
depreciados. Eles eram depreciados até 80% nos dez anos e paravam, a partir
dali continuavam rodando, mas nesse item, lá na planilha de custo, o resultado
era zero, com um terço da frota não tendo nenhuma remuneração.
Essa foi a realidade com a qual
nós nos deparamos, daí porque chegamos à conclusão inexorável de que ou dávamos
uma dimensão para esse item ou então não havia solução dentro da legalidade
vigente para que o problema fosse encarado. Ou íamos nós da área de transportes
vir à Câmara e dizer: “Olha, não há recurso para o sistema, é preciso aumentar
o capital da CARRIS, é preciso injetar dinheiro na Sopal e é preciso uma coisa
que é impossível, injetar dinheiro público nas empresas privadas, isso,
legalmente, nem se quiséssemos poderia ser feito”.
Se eu tivesse, no momento em que
tomei a decisão, uma frota disponível dessa magnitude para pôr no lugar daquela
velha que tirei, o teria feito, mas esta é a intenção, o processo produtivo, o
mundo econômico em que nós vivemos. A recessão e a crise não nos permitem, de
um momento para o outro, fazer esta substituição. Achamos nós, e quero voltar
aqui, quero ser cobrado pelos senhores, que num prazo de seis meses, não vamos
utilizar os outros seis meses, num prazo de seis meses vamos conseguir retirar
de circulação essa sucata ambulante que anda pela Cidade. Tenho confiança de
que com o controle rigoroso do Poder Público, com mecanismos corretos de
financiamento do Governo Federal, não de subsídios, mas de uma linha de crédito
especial, nós vamos conseguir tirar essa frota das ruas de Porto Alegre. E a
Cia. Carris Porto-Alegrense, essa sim, eu tenho certeza de que aí pelo mês de
julho, agosto no máximo, estaremos convidando os senhores para a inauguração da
Linha T7, com veículos novos, tipo padrão, que são os melhores veículos
existentes no Brasil e que certamente vão ter uma incidência definitiva nesta
política de renovação.
Em relação aos recursos para o
sistema, certamente nós voltaremos, ainda este ano, a discutir o problema da
taxa dos transportes, já foi abordada aqui uma vez, mas nós queremos
reintroduzir esse assunto porque achamos, de uma vez por todas, que não é só a
tarifa, não é só o bolso do trabalhador que deve custear esse sistema que se
torna cada vez mais oneroso. É um assunto que nos merece toda a atenção e sobre
o qual voltaremos a conversar. Muito obrigado.
Sr. Presidente, eu terminei a
minha resposta ao Ver. Vieira da Cunha.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, eu gostaria também de requerer a V. Exª, no tempo que
faço jus, indago se posso, objetivamente, depois de minha breve introdução,
formular a pergunta, interromper o tempo, meus dez minutos, e o Sr. Secretário
Municipal dos Transportes responder?
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Sr.
Presidente, eu acredito que o Ver. Isaac Ainhorn não vai tirar a oportunidade
dos seus companheiros de também debaterem o assunto e, esgotando a sua primeira
intervenção, ele se inscreve para uma segunda intervenção normal.
O SR. JOÃO DIB (Questão de Ordem): Sr. Presidente, o Ver. Isaac Ainhorn tem toda a
razão com base do art. 202 do Regimento Interno, § 2º, quando diz: “O Vereador
terá dez minutos para formular perguntas sobre o temário”. E: “excluído o tempo
das respostas que poderão ser dadas uma a uma, ou, ao final, todas”.
O SR. PRESIDENTE: Nós agradecemos a elucidação do Ver. João Dib e gostaríamos de dizer,
também, a bem da verdade, que a assessoria da Mesa estava nos orientando e eu
não estava entendendo qual era a colocação que estava correta.
Com a palavra o Ver. Isaac
Ainhorn.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, na mesma linha de raciocínio aqui desenvolvida pelo
nobre Ver. Vieira da Cunha, a qual subscrevo integralmente, tenho enormes
dificuldades de entender, hoje, o posicionamento da Administração do Prefeito
Olívio Dutra e de seu secretariado. Passo a entender, em parte, até por uma
resposta dada pelo Sr. Secretário dos Transportes, que a vida é dinâmica em
todos os seus aspectos. Daí, eventualmente, fica no caráter subjetivo de cada
um entender esse dinamismo a que se refere o Sr. Secretário. Mas poderia, de
repente, entender que o discurso de palanque é um e, depois, o discurso no
Governo, na Administração é outro. É um dos entendimentos.
Eu gostaria de fazer
objetivamente as formulações, as perguntas ao nobre Secretário. Primeiro: se o
incremento da folha de pessoal, do abono, que foi de 24,59%, concedido ao
pessoal de operação, por que esse incremento de 24,59% repercutiu num repasse
para a tarifa de 40,1%? Esta é a primeira pergunta e gostaria que V. Exª
interrompesse meu tempo.
O SR. GIOVANI GREGOL (Questão de Ordem): Sr. Presidente,
segundo o art. 202, § 2º, me parece que o prosseguimento que está sendo dado ao
debate não é fiel, não obedece ao Regimento da Casa.
O SR. LUIZ BRAZ (Questão de Ordem): Sr. Presidente é uma questão ultrapassada, V. Exª
já resolveu, a assessoria da Mesa já orientou a Mesa nesse sentido. Acho que
agora é perturbar o debate.
O SR. PRESIDENTE: Nós vamos ler ao Ver. Giovani Gregol o que diz o § 2º: “O Vereador terá
dez minutos para formular as perguntas sobre o temário, excluído o tempo de
respostas que poderão ser dadas uma a uma para o Vereador ou, ao final, todas”.
Ou seja, o Sr. Secretário pode responder todas no final e nós estamos
procedendo em conformidade com o § 2º.
O SR. GIOVANI GREGOL: A interpretação da Mesa é que esse “uma a uma” se
refere exatamente à questão que está sendo indagada ou à pergunta específica, à
questão que está em discussão ou ao Vereador que pergunta, porque muda
completamente a interpretação do parágrafo.
O SR. PRESIDENTE: A interpretação dada à Mesa pela assessoria da Casa é de que o Vereador
formula uma pergunta e o Sr. Secretário, se quiser, responderá uma a uma as
questões do Vereador.
O SR. GIOVANI GREGOL: Até completar dez minutos? Este é o entendimento da
Mesa?
O SR. PRESIDENTE: Até completar dez minutos.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Sr. Presidente, Ver. Isaac Ainhorn, com todo o
respeito, eu preferiria responder às perguntas em bloco porque às vezes há uma
inter-relação de perguntas e se o Regimento me faculta respondê-las em bloco,
preferiria. Acho que é mais didático e mais correto fazer assim.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente, está mais do que claro a forma de o Vereador, no direito
que ele tem, fazer as formulações das suas perguntas, das suas indagações. Eu
entendo que, para o bom esclarecimento dos Srs. Vereadores neste debate,
impõe-se a resposta de uma a uma, se, porventura, algumas das perguntas que eu
formular já tiver relação, evidentemente que não irei ensinar ao Sr. Secretário
como respondê-las, ele mesmo saberá dizer se ela estará prejudicada em face da
pergunta anterior, e eu também procurarei me esforçar para não fazer perguntas
que já foram respondidas. Então, entendo que, para o bom andamento do trabalho,
se há uma disposição real de esclarecer este assunto aqui nesta Casa, o aumento
tarifário, que se responda uma a uma, senão está se tergiversando e falando
sobre questões que não são a respeito do aumento da tarifa.
O SR. PRESIDENTE: Gostaríamos de informar que, segundo o entendimento desta Mesa, o § 2º
do art. 202 dá a faculdade ao Sr. Secretário para se posicionar. “Poderão ser dadas”
e não “deverão ser dadas”, ou seja, o Sr. Secretário pode optar pelo sistema
que ele entender o mais adequado.
Questão de Ordem com o Ver.
Clovis Ilgenfritz.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ (Questão de Ordem): Sr. Presidente, não
era a nossa intenção fazer este tipo de debate num momento tão importante, mas,
realmente, ou se interpreta o Regimento e se usam iguais valores para todas as
questões ou estaremos numa situação muito ruim. O Sr. Secretário tem o direito
de dizer se irá responder em bloco; então, ele diz isso, o que pergunta tem que
perguntar e não tem direito a réplica.
O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato): Está registrado e foi essa a posição que a Mesa
tomou. É uma opção do Sr. Secretário.
O SR. LUIZ BRAZ (Questão de Ordem): Sr.
Presidente, acontece que nós ouvimos determinadas indagações vindas do Ver.
Vieira da Cunha que nós pensávamos que seriam respondidas literalmente pelo
Secretário. E nós vimos que não houve resposta, houve uma tergiversação. O que
nós não gostaríamos é que a coisa continuasse assim, porque senão é melhor
suspender tudo, realmente, porque continuar dando explicações neste Plenário
sem esclarecer absolutamente nada, nós não vamos chegar a ponto nenhum. Então,
o que vai acontecer? Eu pediria ao Secretário, que realmente tem opção dentro
do Regimento para responder tudo no final ou uma a uma, que fizesse um favor a
este Plenário de responder uma a uma para que o debate se tornasse mais claro,
porque, senão, nós vamos ver exposições como as que foram feitas pelo Ver.
Vieira da Cunha ficarem completamente sem sentido, porque na verdade não houve
resposta.
O SR. PRESIDENTE: Nós gostaríamos,
antes de passarmos a palavra ao Ver. Antonio Hohlfeldt, de dizer o seguinte: na
semana passada teve uma Sessão, nesse mesmo sentido aqui na Câmara, onde a
praxe desta Casa era inscrever em segundo turno os Vereadores que haviam falado
num primeiro momento. E que, na semana passada foi levantado, argüido o
Regimento Interno para não conceder nova inscrição.
O SR. ANTONIO HOHLFELDT (Questão de Ordem): Sr. Presidente dos
trabalhos, apenas querendo colaborar com a Mesa e evitando que haja uma
radicalização da situação que não vai levar a nada, o que interessa à Casa é a
Cidade. Eu gostaria de lembrar ao Ver. Isaac Ainhorn que o § 1º do art. 201 é
muito claro quando diz que as questões deveriam ser formuladas com antecedência
e por escrito no ofício dirigido ao Prefeito, o que não se fez anteriormente.
Então, nesse sentido, se for para cumprir estritamente o Regimento, é provável
que nós devêssemos suspender a Sessão, cumprir o ritual, fornecer as perguntas
por escrito, remarcar a reunião com o Sr. Secretário e, depois, cumprir
estritamente.
Como não se fez essa parte, eu
apelaria ao Vereador que, como o que nos interessa é o debate e o Ver.
Ferronato abre o espaço inclusive para que haja novas inscrições, que realmente
se respeite a posição do Sr. Secretário. É uma tradição da Casa o Secretário
sempre conduzir o debate dentro de um certo limite, porque se nós formos
radicalizar, se for para o cumprimento do Regimento, nós estamos cumprindo todo
e não apenas uma parte que interessa a um dos lados, senão, realmente, vai
ficar muito difícil. Faço um apelo a V. Exª no sentido de que o debate se faça
dentro do que tem sido a prática do Plenário, porque o cumprimento estrito do
Regimento nos obriga a suspender a Sessão neste momento e cumprir aquilo que
estava previsto, que era a clareza da formulação das questões por escrito,
conforme diz o § 1º do art. 201.
O SR. EDI MORELLI: Eu aguardava a presença neste Plenário do Presidente titular desta Casa,
porque numa Questão de Ordem, no início da Sessão, eu perguntei sobre o assunto
planilha. Se eu pedi que a SMT divulgasse na imprensa as planilhas de custo...
O SR. PRESIDENTE: Isto não é Questão de Ordem:
O SR. EDI MORELLI: É Questão de Ordem, sim! Porque me foi respondido numa Questão de Ordem.
Se eu pedi a divulgação na imprensa das planilhas, não foi por ser apenas
oposição, foi para colaborar com o PT. Acontece que o Prefeito Olívio Dutra
disse que tanto o Ver. Edi Morelli quanto qualquer pessoa pode procurar a SMT
para examinar as planilhas. Um assessor foi à SMT com um Ofício, no dia 22, e
no verso do Ofício está assinado pelo Secretário: “Estas tarifas e seus
respectivos processos já foram enviados à Câmara de Vereadores, através de
Pedido de Informações”.
É evidente, respondendo ao
Presidente da Casa, Ver. Antonio Hohlfeldt, que a minha assessoria não se
enganou, porque não vou procurar, se alguma documentação foi enviada à Câmara
de Vereadores, com a Portaria ou com os serventes. É com a Presidência. A
Presidência, através da Carmem, está assinado, recebi em 23 de abril da Carmem,
disse que até o meio-dia entregaria. Do meio-dia ficou para a tarde. E agora à
tarde devolveu, dizendo que não tem nada.
O SR. ISAAC AINHORN (Questão de Ordem): Na minha primeira
questão eu tinha colocado uma formulação de questionamentos, porque eu entendo
como fundamental que o objetivo básico desta convocação é o esclarecimento dos
critérios e dos elementos que elevaram a tarifa de Cr$ 53,75 para Cr$ 75,00.
Nós estamos buscando esclarecer os fatos que elevaram essa tarifa, razão pela
qual, quando formulei o Requerimento, eu apresentei apenas em um único quesito.
Segundo, o Sr. Secretário, na sua exposição de uma hora, no meu entendimento, e
que foi muito bem apanhado pelo Ver. Vieira da Cunha, não respondeu algumas
questões fundamentais em relação aos critérios que levaram a esse aumento.
Então, me fez, num determinado momento, formular as questões objetivamente,
porque é o que querem os Vereadores que estão aqui presentes na sua maioria, é
a resposta objetiva à formulação desse aumento de Cr$ 53,75 para Cr$ 75,00.
Evidentemente que, quando se fala
nesse aumento, estão embutidos uma série de outros questionamentos relativos a
esse aumento. O que nós apelamos é que, se o Plenário entender que
didaticamente é mais conveniente para o interesse e para a clareza do Plenário
que seja respondida uma a uma, o Sr. Secretário responda uma a uma a fim de que
se esclareça definitivamente esse assunto, sob pena de nós não nos sentirmos à
vontade. Ou, se o Presidente entender que os quesitos não estavam formulados,
eu acho melhor tranqüilamente se encerrar esta convocação extraordinária.
O SR. PRESIDENTE: Nós suspendemos os trabalhos por
dois minutos.
(Suspendem-se os trabalhos às 16h21min.)
O SR. PRESIDENTE (Airto Ferronato - às 16h34min): Informamos aos Srs.
Vereadores que, segundo prescreve o § 2º do art. 202, a posição está correta,
eis que o Sr. Secretário é que tem a faculdade de decidir sobre qual é a forma
que mais é oportuna a ele para as respostas. Portanto, damos seqüência aos
trabalhos e passamos a palavra ao Ver. Isaac Ainhorn, marcando novamente seu
tempo inicial de dez minutos.
O SR. ISSAC AINHORN: Indagaria, antes de mais nada, dentro do meu tempo, qual o critério que
o Sr. Secretário, na faculdade que possui regimentalmente, vai adotar em
relação às perguntas, se respondidas uma a uma ou em bloco.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Prefiro responder em bloco.
O SR. ISAAC AINHORN: Respeitando a preferência do Sr.
Secretário, formulo apenas duas perguntas, deixando as demais aos colegas
Vereadores.
Primeira pergunta: volto a
repetir, se o incremento da folha de pessoal foi de 24,59% para o abono
concedido, por que foi repassado para a tarifa o percentual de 40,1%? E se a
tarifa que era de Cr$ 53,75 e foi para Cr$ 75,00, aplicando o incremento de
folha de pessoal para o abono, não seria a tarifa de Cr$ 60,00?
Segunda pergunta: por que,
objetivamente, no cálculo tarifário, a SMT não observou a Lei da Metodologia do
Cálculo, Lei de nº 5.891/87, para a aferição da tarifa do transporte coletivo
em nossa Cidade? Apenas estas duas perguntas.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Gostaríamos de responder ao Ver. Isaac Ainhorn,
pelo respeito que temos por S. Exª e até pelo interesse dele na matéria, com
clareza e didaticamente. Claro que há uma diferença entre não entender e não
querer entender. Tenho certeza de que a intervenção do Ver. Vieira da Cunha me
contemplou, pois também tenho a certeza de que, embora ele tenha dito o
contrário, ele entendeu perfeitamente a política que estamos seguindo. Espero
ter a mesma clareza na resposta ao Ver. Isaac Ainhorn.
Primeiro, repito, a minha
intervenção inicial, que é a necessidade que temos quando estudamos o problema
da tarifa, de fazer uma diferença entre alteração de preço e alteração de
custos. Estes têm uma estrutura de remuneração; os preços, outro comportamento.
Quais são os preços fundamentais do transporte coletivo? Certas pessoas pensam
que é o óleo diesel, porque assim é que acontece no táxi. Então, até existe uma
lei para que os taxistas usem a bandeira dois no mesmo dia em que há alteração
do combustível. As pessoas, por ilação, acham que a repercussão do combustível
no custo dos transportes também tem essa magnitude. Mas, na verdade, não têm. O
combustível, no transporte coletivo, tem uma repercussão muito pequena. Se
concebermos um aumento da ordem de 50% no preço do óleo diesel, na tarifa,
certamente, esse preço repercutiria no máximo em 5 ou 6%.
Os preços fundamentais dos
transportes coletivos são mão-de-obra, ocupa entre 50 e 60% do preço final de
uma passagem. Aquela empresa que for mais enxuta, não a que paga piores
salários, porque os salários são iguais a todos, mas aquela que for mais
adequada, menos mão-de-obra ociosa, no mínimo precisa usar 50% de sua receita
para pagar pessoal. Aquela empresa, como é o caso da CARRIS, por razões
históricas conhecidas, que tem uma folha de pagamento mais pesada, um fator de
utilização maior, esta chega a consumir até 60% de sua receita com pessoal.
Então, havendo uma alteração no item pessoal, isso é sempre significativo na
tarifa. Outros fatores que influem no preço seriam a variação nos preços do
chassi e, na decorrência, das autopeças, a rodagem dos pneus tem uma influência
bastante grande. Na composição dos custos, não. Se pudermos compreender
claramente, e eu volto a repetir isso, que a retirada de um ônibus de dez anos
de idade de uma frota de mil e quinhentos e a colocação no lugar daquele ônibus
velho de um ônibus de zero ano de idade, altera a tarifa final paga pelo
usuário ainda que em centavos porque se trata de um ônibus.
Se nós chegarmos a ter esta
compreensão de que é assim na composição dos custos do sistema, nós vamos
compreender porque essa tarifa, hoje, tem uma alteração de preços, no caso são
os salários, e uma alteração nos custos pelo critério adotado pela
Administração em relação principalmente ao problema da depreciação e da
remuneração do capital. Esse é o critério aplicado, e eu li para que contassem
em Ata as palavras textuais do nosso parecer. Esse critério de retirar da
frota, de não remunerar mais esses ônibus, esses quatrocentos e oitenta e um
veículos, que estão velhos, que não são mais remunerados nem depreciados porque
a lei assim não o prevê, isso provoca, evidentemente, uma alteração de custos
do sistema de tal maneira que, em alterando isso, nós viabilizamos dentro do
sistema de transportes a renovação automática da frota por si mesma com estes
itens devidamente dimensionados. E é por isso que o incremento da folha na
ordem de 24,59% tem uma repercussão como preço que é, e a alteração da
composição de custos do sistema, permitindo que ele se renove por si mesmo, tem
uma outra repercussão no preço final da passagem.
Eu, Ver. Isaac Ainhorn, com todo
respeito, acho que obedecemos rigorosamente a lei, estudamos a lei assim como
uma exegese profunda tanto nos seus aspectos jurídicos como nos seus aspectos
operacionais. Pode ser que tenhamos cometido algum lapso, eu não quero dizer
que nós acertamos 100% nesse problema, mas não fizemos qualquer cálculo,
nenhuma Portaria, sem antes, junto com a nossa Procuradoria e com nossos
advogados da assessoria jurídica própria da SMT, fazer uma análise profunda da
Lei nº 5.891.
Eu não vou entrar no detalhamento
dos problemas e das interpretações que fizemos dessa Lei, porque aqui tem
situações que são bastante complexas e difíceis de a gente estar a especificar
assim o seu aspecto mais capilar. Mas essa Lei à qual V. Exª se referiu tem
estado sempre um cima da nossa mesa toda a vez que nós somos obrigados a ver os
itens que compõem a planilha de custos. Se nós formos ver a interpretação da
Lei no item “outras despesas” e ver entre a Lei e a vida qual a correspondência
real das despesas, administração e do pessoal da manutenção, daquilo que são
índices fechados da Lei e daquilo que nós pudemos estabelecer aqui, por
critérios próprios, nós podemos chegar, pelo menos a uma tentativa séria de
cumprir, mas nunca de descumprir essa Lei.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Clovis Ilgenfritz.
O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente e Srs. Vereadores, Sr. Secretário,
nosso companheiro assessor, eu, a rigor, não tenho perguntas a fazer ao
Secretário, mas como membro da Bancada do PT, que está no Governo, como ex-Secretário
do Planejamento, participei ativamente de determinados momentos muitos
aflitivos, muito difíceis da Administração, em especial na questão do
transporte. Eu queria dizer ao Sr. Secretário que me sinto totalmente
satisfeito com as colocações feitas e que eu vou usar as cópias taquigráficas
para pronunciamentos posteriores até para poder discutir com os demais
Vereadores, num nível em que a gente possa encontrar soluções.
Eu posso até aceitar dos outros
Vereadores, colegas dos outros Partidos, que haja questões que não foram
respondidas e que podem ser formuladas aqui para completar isso aí. A minha
preocupação básica é que essa reunião deixe uma marca aqui na Câmara de que a
questão do transporte em Porto Alegre, primeiro, está sendo levada, tanto pelo
Executivo como pelas demonstrações existentes aqui, dos Vereadores, com muita
seriedade, porque é, quem sabe, o grande problema de Porto Alegre no momento em
que tem raízes que já foram colocadas em outras oportunidades, que não vão ser
saneadas de uma hora para outra sem que haja um esforço conjunto.
Por exemplo, na questão que foi
colocada na tribuna em um outro momento que houve este debate aqui, nós
tínhamos, de 1984 a 1986, um processo de discussão das tarifas. Após elas serem
elaboradas pelo Governo, elas passavam pelo crivo da chamada Lei Werner Becker.
E por haver nesta Câmara, na época, problemas de interpretação diferenciada,
muitas vezes a tarifa foi avaliada abaixo dos custos reais. E isso fez com que
houvesse dificuldade, caía exatamente na dificuldade da renovação da frota, foi
o primeiro item a ser prejudicado. Depois, durante um determinado prazo do
Governo anterior ao atual, houve uma espécie de destrato, de saída do consórcio
das empresas onde havia uma redistribuição dos valores tarifários para que as
empresas todas tivessem uma certa isonomia de tratamento, e por isso também
continuou havendo um sucatamento da frota, principalmente das empresas
privadas, ficando apenas a empresa CARRIS com determinadas condições de
renovação.
Eu não falei, Sr. Secretário, no
período anterior, que nesse período anterior havia muitos recursos no Governo,
principalmente do Villela, que fez uma renovação enorme da frota com recursos
que vieram em nível federal e num período onde esses recursos eram abundantes,
hoje não o são. Então, eu coloco como questão que hoje não adianta um Vereador
ou parcela da população ou setores fazerem com que a Prefeitura não tenha
condições de renovar a frota, ou através da Justiça, como foi o caso do plus,
ou através de outras questões, questionamentos. O que se precisa, e é esse o
nosso entendimento, é por isso que nós estamos reunidos, é haver uma saída que
leve a Prefeitura, através da CARRIS, da Sopal e das empresas privadas que
estão com a permissão do transporte, a poder renovar a frota, recompô-la e,
quem sabe, através de novos procedimentos.
E aí eu proponho, não sei se é
tema do dia, mas que se discuta a seguir, num processo da Câmara com o
Executivo e com a população, a chamada taxa de transporte, como uma proposta que
o Governo tem feito, porque a taxa de transporte, se aperfeiçoada pelo
Vereadores, inclusive por aqueles que têm uma experiência larga, como o Ver.
Dib, poderá ser uma saída para que não precise haver esse tipo de discussão
aqui.
Por outro lado, eu queria propor,
também, aos Srs. Vereadores e pedir vênia ao Sr. Secretário para que nos
colocasse quais são as preocupações que existem. Além do que está sendo
perguntado aqui, existe toda uma preocupação da visão global do transporte em
Porto Alegre, existem seminários em andamento, um processo que nós, que
participamos da CUTHAB como Vice-Presidente, temos grande interesse, junto com
o Presidente e com os demais membros da Comissão, tenho certeza, em participar
desses eventos, porque a CUTHAB também está propondo eventos sobre transportes
que levam em consideração outras coisas. Porque nós, infelizmente, temos visto
se agravar isso na Administração Popular e estamos tentando a saída, pois
estamos num brete de discutir apenas tarifa e ônibus, mas temos que discutir
transporte, e eu sei que a Administração Popular tem propostas para transporte.
Então, vamos ter que passar para um parâmetro de discussão mais amplo, senão
nós vamos ficar girando em torno de um problema que tem muito a ver com a
capacidade aquisitiva do povo, tem muito a ver com a recessão, tem muito a ver
com os processos que hoje estão a nos impedir que se faça melhor. Então, usamos
este tempo neste sentido e cumprimentamos o Secretário pela explanação que fez.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Luiz Machado.
O SR. LUIZ MACHADO: Eu queria saudar o Sr. Secretário e dizer que procurarei não sair do
tema em pauta. Ao apresentar um Projeto que visa ao arredondamento da passagem
toda vez que tiver dificuldade para troco, procurei até mesmo conversar com os
usuários do transporte e pude constatar que eles já pagavam Cr$ 55,00 naquela
ocasião, mais ou menos há quarenta e cinco dias, pagavam Cr$ 55,00 quando a
passagem era Cr$ 53,77. Apresentamos o Projeto, pedindo urgência na votação, e
procuramos nos ater à Lei do ex-Vereador Pedro Ruas, sobre a questão do troco.
Tentando verificar se aquela Lei estava sendo cumprida, procuramos visitar os
ônibus em circulação na Cidade, falar com o usuário do transporte, e vimos que,
por um Decreto do Governo, de julho de 1989, Decreto nº 9.463, as empresas eram
obrigadas a colocar, dentro dos ônibus, em lugar visível para o usuário, a Lei
do Troco, mas isso não estava sendo cumprido.
Pergunto, agora que temos em
vigor o Código de Defesa do Consumidor, para defender o consumidor e, é claro,
defender o usuário do transporte, a Frente Popular, o Governo não vai receber
críticas a respeito dessa situação, no momento em que continue não exigindo que
as empresas permissionárias cumpram a Lei? Gostaria da posição do Sr.
Secretário sobre a minha manifestação.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Aproveito a oportunidade que o Ver. Luiz Machado me
dá. Abordarei, num primeiro momento, as questões por ele levantadas e, depois,
queria, rapidamente, tecer algumas considerações sobre a intervenção do Ver.
Clóvis Ilgenfritz, que me parece muito momentosa.
O problema do troco, no sistema
de ônibus de Porto Alegre, é realmente um problema às vezes grave e que tem
tido até a atenção da própria Justiça. A Coordenadoria de Promotorias Criminais
nos fez uma manifestação, há algum tempo atrás, sobre esses problemas, porque
vivemos num país onde existem centavos escriturais na economia, mas não existem
moedas de centavos. Quando se faz contabilidade, se põe lá tantos cruzeiros,
vírgula não sei quanto, mas o Banco Central não cunha moedas de centavos e se
cunhasse certamente estaria perdendo tempo, porque são moedas que não têm valor
de troca em nada. A própria moeda de um cruzeiro, apesar de existir tanto
fisicamente como escrituralmente, é uma moeda difícil de achar. Nós temos a
seguinte experiência, a Cia. Carris Porto-Alegrense, durante uma semana, buscou
sacos de moedas no Banco Central para fornecer aos seus cobradores de manhã, na
hora em que eles começavam a trabalhar, e a experiência foi esta: as moedas são
fornecidas, elas ficam na roleta, mas não retornam à empresa, principalmente as
de um cruzeiro. Nós não conseguimos bem entender o fenômeno de se essas moedas
têm o valor tão desprezível que são jogadas fora ou se o próprio cobrador, para
outra vez criar problema com o troco, desvia essas moedas para outro lado,
porque quando a tarifa é quebrada, e já houve isso, aqui, naquela tarifa de Cr$
53,77, os cobradores até compram máquina de calcular porque o troco é deles e
não é o troco de uma passagem. Em geral, numa tabela dessas, no dia, comporta
aí cerca de novecentas mil pessoas, se multiplicarmos isso por aqueles
centavos, é o cobrador quem ganha, ele não é obrigado a prestar contas na
recebedoria da empresa sobre aqueles centavos que não fazem parte da tarifa.
Embora, dizem até, e eu agora quero observar mais de perto, que a própria moeda
de cinco cruzeiros começa a desaparecer também. Nós vamos observar isto.
Eu acho, Ver. Luiz Machado, que o
Projeto de Lei de V. Exª é altamente meritório. Eu não sei da praticabilidade
dele. Nós temos que estudar isto, ou se, pelo contrário, nós fazemos o que
fazem muitas cidades brasileiras, de arredondar sempre a tarifa, seja para
baixo ou para cima quando estiver mais perto de cinco e para baixo quando
estiver mais perto do zero. E um arredondamento compensar o outro. Agora, o que
não se pode mais realmente é decretar essas tarifas quebradas, porque isso aí
irrita a população, dá um dinheiro ilícito ao cobrador, ele tem que ganhar
salário e não gorjeta, e, às vezes, com muita razão, o usuário quer o seu
troco. A Lei do Troco tem que ser obedecida, ela muitas vezes não é fixada, mas
vale a observação de que temos que insistir junto a todas as empresas para que
afixem claramente a Lei do Troco. Às vezes, não é um centavo ou um cruzeiro,
mas muitas vezes são dez ou vinte cruzeiros que não aparecem na hora do troco.
Mas, em relação às colocações do
Ver. Clovis Ilgenfritz, quero tecer os seguintes comentários: eu acho nós temos
que fazer uma análise profunda do que é o transporte coletivo e,
principalmente, o que são os seus custos. Sem entrar no mérito de como estão se
comportando as empresas privadas, nós esperamos, agora, no primeiro semestre
deste ano, através da implantação de um plano padrão de contas, contabilidade
padronizada de todas as operadoras, poder ter um controle dos custos do sistema
muito melhor do que se teve até agora, para que, realmente, se saiba tostão por
tostão onde o empresário aplica o dinheiro da tarifa.
Há uma luta constante no setor
público que acho que devemos acompanhar de perto, das empresas públicas, para
minimizar os seus custos. Empresas como a Cia. Carris Porto-Alegrense, que tem
algumas coisas desproporcionais ao sistema, principalmente no item folha de
pagamento, têm feito ao longo desses dois anos um esforço enorme para se
otimizar e para reduzir esses custos na medida do possível, sem, evidentemente,
promover uma política de arrocho ou de perseguição ao trabalhador, negando-lhes
os seus direitos fundamentais. Às vezes, nós ficamos espantados com os custos
da CARRIS, mas não vemos a contrapartida que estes custos têm na qualidade de
vida de quem trabalha lá, como fardamento fornecido pela empresa, refeitório
subsidiado e horas extras pagas religiosamente. Acho que o dia que nós pudermos
dominar bem o custo do sistema, nós vamos de uma vez por todas dirimir esta
polêmica do preço da passagem, porque se nós nos convencermos de que o custo é
realmente aquele e que ele está corretamente dimensionado e que é o custo
necessário e justo, depois é só dividir por quem paga, porque esse é o preço da
passagem de ônibus.
Mas acho que, em determinados
momentos, quando a receita não foi suficiente para cobrir os custos, um dos
itens sacrificados pelo empresariado e até pelas empresas públicas foi esse
item de renovação de frotas. E essa política suicida foi que nos levou muitas
vezes a alguns bretes, a não saber como equacionar esse problema dentro do
próprio sistema.
Queria dizer para os senhores que
nós temos algumas grandes preocupações na área do transporte coletivo que acho
que têm que ser abordadas com mais amplitude pela Câmara de Vereadores, pelo
movimento social organizado, pela Administração da Prefeitura, enfim, por todos
os segmentos da sociedade que têm responsabilidade neste assunto.
Vejam, por exemplo, a questão
dessa mudança de terminais de ônibus que nós fizemos no Centro, que
aparentemente não tem muita ligação com isto que estamos discutindo, que é a
tarifa de ônibus, mas que no fundo, eu aprendi isto ao longo desse tempo que
tenho passado na SMT, tem uma inter-relação, no transporte coletivo nada é
isolado, quando a gente pega um tema para analisar vamos ver que repercute nos
outros.
Os senhores devem ter assistido à
constatação nua e crua dos problemas que estamos enfrentando com o trem
metropolitano, a tentativa do Governo Federal de estatizar esse trem, o
sucatamento a que esse trem está submetido, o perigo de que o trem pare de
operar. Isso repercute e cria a grande preocupação de que se estourar o trem,
no mesmo momento estouramos o corredor da Farrapos e da Assis Brasil, que são
corredores saturados, já não comportam mais nenhum incremento de veículos da
maneira como estão. Quando colocamos os ônibus do eixo norte lá na Elevada da
Conceição, a nossa previsão é que isto provoque, pelo distanciamento dos
terminais, um incremento da ordem de vinte mil passagens/dia no trem. Isso tem
incidência no custo e na tarifa do transporte coletivo em Porto Alegre, porque
se desafogarmos o corredor da Assis Brasil, os ônibus andarão com maior
fluidez, gastarão menos combustível e os passageiros gastarão menos tempo.
Uma coisa que nos chamou a
atenção na mudança do terminal do ônibus da Parobé para a Praça Rui Barbosa,
essas linhas da Nortran e da Sopal tiveram diminuído o seu tempo de viagem em
cinco minutos por volta. E isso, além de obviar mais a vida do usuário, vai
economizar frota e racionalizar o sistema.
Diria que nessa questão da tarifa
temos que começar a pensar em Porto Alegre em integração tarifária, porque isto
é modernidade. Não podemos conceber que o nosso usuário tenha que passar por
uma roleta e pagar quando está indo para um único lugar de destino e teve a
fatalidade de pagar dois ônibus. No mundo todo, nas grandes capitais, a
integração física já é uma realidade. Nós conseguimos chegar a um modelo
correto onde as pessoas, dentro de uma faixa horária específica, um itinerário
pré-determinado, possam ser beneficiadas. Com a integração tarifária, a questão
do preço da passagem já começará a ter outra dimensão também para nós.
Neste sentido é que estamos
propondo um novo modelo operacional para Porto Alegre, que ainda não está
delineado. É uma questão complexa e viemos do trauma da integração do Corredor
Bento Gonçalves, que até hoje está sendo refletido pela população e não
permite, às vezes, que a gente seja um pouco mais ousado nesta questão
tarifária, mas que é uma necessidade, penso eu, para um direcionamento correto
da tarifa em Porto Alegre.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Luiz Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente, Sr. Secretário, eu vou voltar ao ano de 1986, quando a
Câmara Municipal votava as tarifas do transporte coletivo. O Secretário tinha,
naquela época, uma visão tarifária um tanto quanto diferente da atual, porque
naquela época o Secretário era crítico mordaz dos Vereadores da Câmara
Municipal de Porto Alegre. Naquele tempo, Sr. Secretário, o salário mínimo
poderia comprar mais ou menos quinhentas passagens. Acontece que com o salário
atual se consegue comprar um pouco mais de duzentas passagens. Então, eu queria
que o Sr. Secretário respondesse: o que foi que mudou? Mudou o Secretário na
sua visão de transporte coletivo ou o que mudou? Uma segunda pergunta que tenho
ao Sr. Secretário é com referência ao plus
tarifário, porque foi exatamente o plus tarifário que capacitou a
Prefeitura a adquirir vários ônibus novos: esses ônibus que foram adquiridos
foram repassados para as empresas, eles são repassados, pura e simplesmente,
para fazer parte da frota e do patrimônio das empresas ou este plus tarifário, que é um a mais em cima
da tarifa, ele compra ônibus novos que fazem parte do patrimônio do Município?
São somente estas duas perguntas.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Acho que faz bem o
Ver. Luiz Braz em formular esta pergunta. Em que teria mudado? E eu aqui não
resisto de citar o nosso grande e saudoso escritor Machado de Assis: “Mudaria o
Natal ou mudei eu?”. Efetivamente, o que há no Brasil de 1976 para cá é uma
degradação formidável no salário do nosso povo e nas condições de vida a que
população brasileira está sendo submetida. E é por isso que essa comparação
entre a tarifa e o salário mínimo sempre será desvantajosa para o trabalhador,
porque se nós formos comparar o salário mínimo com o preço dos remédios, por
exemplo, efetivamente, já não é mais o transporte que está sendo sonegado à
população, o direito de ir e vir, mas a própria vida, real é a degradação que
nós estamos vendo nas condições socioeconômicas do nosso povo.
No caso do transporte coletivo, e
eu me referia a isso no início da minha intervenção, se nós fôssemos manter um
compasso absoluto entre tarifa e salário, eu tenho certeza de que nós não
teríamos mais transporte, hoje, em Porto alegre, assim como tenho certeza de
que a degradação de vida do povo brasileiro é tal que há muitos itens
necessários à sobrevivência mínima de uma família que não são contemplados com
esse salário. Então, como nós temos a responsabilidade institucional de
garantir a prestação desse serviço, a continuidade e o futuro do transporte
coletivo, porque não podemos pensar só no dia de hoje, é que nós temos que
manter uma política tarifária condizente com os custos reais do sistema, que
esses, sim, têm que ser aferidos, têm que ser mensurados e constantemente
fiscalizados por nós.
E em relação à questão do plus e da frota, eu queria dizer o seguinte: nós durante muito tempo
enfrentamos essa questão e sabemos que legalmente nós não podemos comprar
patrimônio público com dinheiro privado, porque isso é uma ilegalidade, não
está previsto na lei. Eu não posso comprar nenhuma caneta com o meu dinheiro e
dizer que ela é propriedade da Prefeitura, porque só é propriedade do Município
aquilo que é comprado com o dinheiro do Orçamento, não era o caso. O que nós
temos como garantia definitiva da questão dessa frota é que ela é uma frota
afetada definitivamente ao serviço público. Nós não queremos conceber a
hipótese de que um dia, não esta Administração, mas alguma sua sucedânea, venha
a desafetar esses veículos, por exemplo, um articulado da Restinga, e permita
que ele seja vendido como uma simples mercadoria. Nós achamos que não, que
esses veículos estão indissoluvelmente ligados à prestação do serviço na cidade
de Porto Alegre e não podem ser vendidos, a não ser que haja uma autorização
expressa do Poder Público para tal. Não é o regime jurídico que está aqui sendo
discutido, mas a garantia que a população tem de que essa frota está ao seu
serviço enquanto durar a sua vida útil.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Mario Fraga.
O SR. MARIO FRAGA: Sr. Secretário, saúdo a sua presença nesta Casa e digo que a passagem de
Cr$ 75,00 é cara. E tenho certeza que o Sr. Secretário também sabe disso. É
cara, não para mim nem para o nobre Secretário, mas para aquele povo, onde nós
nos conhecemos, lá na Vila Resvalo, pagar Cr$ 75,00 por uma passagem de ônibus,
tenho certeza que é cara, e tenho certeza que o nobre Secretário sabe que é
cara para eles.
As questões colocadas por mim são
as seguintes: a Portaria nº 01, que foi assinada, que o Ver. Vieira da Cunha
colocou, o Senhor falou que não vamos usar os outros seis meses, eu queria que
o Senhor confirmasse afirmativamente sim ou negativamente não, se vai usar os
outros seis meses ou não. A segunda questão seriam os 24% da antecipação
salarial que os motoristas, cobradores e demais funcionários receberam. Essa
antecipação salarial é uma antecipação que dá quem quer e não é uma
obrigatoriedade para ser colocada na tarifa. Eu gostaria de saber, então, esses
24%, quanto que representam dessa tarifa? Gostaria de saber, também, do Sr.
Secretário, se a Lei nº 5.891/87 está em vigor. Se é uma lei, por que não está
em vigor? Por fim, gostaria de saber sobre o ISSQN, que foi a minha Questão de Ordem,
que eu não consegui ter a questão resolvida. Se havia empresas que, como o
Senhor falou, foi em 1990, em atraso, não poderia haver, pois o usuário paga a
passagem no ato, ou seja, o ISSQN das empresas não poderia estar atrasado. Eu
gostaria de saber o que a Secretaria poderia fazer para não atrasar o ISSQN.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Eu quero aproveitar
esta magnífica oportunidade que nos dá o Ver. Mario Fraga para abordarmos essa
questão do preço da passagem e saber se ela é cara ou não, porque eu acho,
realmente, que a passagem é cara. Mas vamos ver de que maneira esta passagem é
paga. E eu aqui afirmo, e estes dados estão à disposição para serem
comprovados. Imaginemos, Vereador, como é que a cidade de Porto Alegre terá um
milhão de passageiros sendo transportados por dia - isto média geral, porque
haverá meses, como fevereiro, onde esse número é bem menor e haverá alguns
meses, como abril ou setembro, em que esse número pode ser menor -, mas imaginemos
uma média de um milhão de passageiros por dia. Destes um milhão de passageiros
por dia, quatrocentos mil usam o vale-transporte. O vale-transporte é uma ficha
que o trabalhador recebe e da qual ele paga até 6% do seu salário, o restante é
pago pelo patrão no momento da compra e depois é deduzido pelo patrão numa
alíquota correspondente do Imposto de Renda. Se o salário do trabalhador
brasileiro fosse alto, essa alíquota de 6% seria significativa na incidência de
seu salário, como nós sabemos que no Brasil a pirâmide salarial é extremamente
comprida embaixo e muito estreita em cima, nós vamos ver que esse teto de 6% no
salário do trabalhador que usa o vale-transporte beneficia uma larga camada de
trabalhadores. Nós temos aqui, Vereador, cento e cinqüenta mil pessoas/dia que
usam a passagem escolar, sejam eles estudantes, primários, secundários,
universitários, sejam eles professores do Estado. Está na ordem de quatorze e
pouco, quase 15% o número de pessoas que usam a passagem escolar. Então, são
cento e cinqüenta mil pessoas que têm passagens subsidiadas. Temos, ainda,
segundo estimativas nossas que serão confirmadas através de pesquisas, uma
ordem de cem mil pessoas isentas do pagamento de tarifa em todas as categorias
contempladas pela lei: os idosos, os carteiros, os policiais militares, os
oficiais de Justiça, os excepcionais cadastrados na APAE, os meninos da FEBEM,
os meninos do MAPA e outras categorias que perfazem um total de cem mil pessoas
que não pagam passagens.
Então, nós vimos que há um universo
de seiscentos e cinqüenta mil pagantes que, de uma maneira ou de outra, têm a
incidência do valor da tarifa minimizada. Resta-nos, Vereador, e aí tem V. Exª
absoluta razão, abordar o problema destes 35% que pagam dinheiro na roleta. E é
sobre este modelo tarifário que nós queremos instalar uma discussão aqui, na
sociedade, para ver se é justo ou não que às vezes um trabalhador desempregado
pague uma passagem inteira subsidiando o estudante. Nós vamos abordar essa
questão, não hoje, porque isto é uma discussão muito profunda, mas queremos
discutir com a Câmara, com o movimento sindical, com os operadores do sistema,
com toda a sociedade, enfim, para que nós tenhamos um modelo tarifário mais
justo pela Cidade: que pague menos quem pode menos.
Em relação à sua outra pergunta,
se nós vamos ou não usar os outros seis meses, eu lhe diria o seguinte: é uma
intenção nossa não usar; agora, não depende de nós o fluxo de fabricação de
carros. Às vezes, como aconteceu já em época muito recente, houve quase que uma
paralisia no encarroçamento de ônibus na Marcopolo por falta de chapas da
Companhia Siderúrgica Nacional, que tinha fechado um alto forno. Quando há uma
greve no sistema de produção de chassis, por exemplo, é bem possível que o
fluxo de entrega de veículos seja interrompido e não consigamos cumprir um
calendário pré-determinado, porque são fatores alheios à nossa vontade.
A questão do salário dos
rodoviários temos que ver com muito cuidado, porque estamos no setor e
conhecemos o peão rodoviário, sabemos quando entra em efervescência e quando o
tropel da greve começa a chegar perto de Porto Alegre. Vínhamos de uma greve
violenta, em São Paulo, onde houve centenas de ônibus depredados, aqui já havia
sintomas claros de uma justa aspiração da categoria, não queremos esticar muito
essa corda, porque ela arrebenta é em cima da nossa cabeça, porque pior do que
não dar um salário digno aos trabalhadores, muito mais grave do que a
repercussão que esse salário tem na tarifa, é a Cidade sem transporte, ou o
quebra-quebra que já enfrentamos e sabemos que prejudica muito mais a
população.
Em relação à Lei, acho que ela
está sendo cumprida, Vereador, temos a fiscalização do Poder Judiciário, do
Legislativo para o cumprimento das leis. Quando isso não acontece, certamente temos
que voltar atrás e cumprir. E prometo mandar, é um empenho pessoal meu, amanhã
farei contato com a Secretaria da Fazenda, uma relação das empresas de ônibus
da Cidade e a sua posição face ao pagamento do ISSQN hoje.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. José
Alvarenga.
O SR. JOSÉ ALVARENGA: Primeiramente,
gostaria de saudar a presença do Secretário e do assessor e a presença dos
companheiros. Na verdade, aprofunda o debate na sociedade porto-alegrense sobre
a crise dos transportes que a nossa Cidade vive e que tem encontrado, em minha
opinião, uma solução por parte da política de transporte da Prefeitura
Municipal. Embora tenha algumas divergências, realmente, reconheço que há, por
parte da SMT, uma política sendo implementada no que diz respeito aos
transportes coletivos em nossa Cidade.
Teria duas perguntas a fazer. A
primeira relacionada ao plus tarifário e uma outra relacionada ao
assunto tarifa atual em Porto Alegre. Durante a vigência do plus, temos informação de que não houve
remuneração de capital incidindo sobre a tarifa durante a vigência do plus tarifário. Na nossa opinião, isso se deve exatamente ao fato de não ter
havido ingresso de capital privado na compra dos veículos. Com a suspensão,
devido à decisão judicial, da cobrança do plus, perguntamos se a partir daí começou
a haver remuneração do capital e quem detém os recursos da cobrança, caso ela
tenha acontecido.
Em segundo lugar, estivemos
estudando, mas não de forma aprofundada, a composição da tarifa na cidade de
Porto Alegre. Constatamos que há uma série de índices que compõem o preço final
do transporte na Cidade e que dois desses itens seriam a depreciação da frota e
a remuneração de capital. Na composição desses índices, há um cálculo
matemático onde aparece o número de veículos circulantes na Cidade, os que
participam do sistema, dividindo o valor médio dos ônibus. Perguntamos se,
devido à existência desse cálculo, se os ônibus que têm mais de dez anos - eles
compunham, entravam para formar esse quociente e a partir da Ordem de Serviço
da SMT parece que não entram mais -, se na verdade esses ônibus com mais de dez
anos não estariam compondo o índice e, portanto, a população estaria pagando
além dos dez anos de circulação, quando já teriam sido totalmente pagos pela
tarifa nos dez primeiros anos em que circularam. Isso não seria irregular? E,
dessa forma, a redução do número de veículos que circulam, feita através dessa
Ordem de Serviço, não seria artificial, estaria promovendo um aumento do preço
da tarifa?
Todos nós estamos discutindo esta
questão e eu queria fazer uma pergunta ainda com relação à questão do plus e gostaria de uma resposta objetiva do Sr. Secretário: na
opinião da SMT, esses ônibus comprados com recursos do plus, na opinião do
Secretário, eles são de
propriedade ou deveriam ser de propriedade pública ou privada? Esta pergunta se
deve ao fato de haver uma ação na Justiça onde questionam esse problema
exatamente o Ver. Vieira da Cunha, o Ver. Lauro Hagemann, este Vereador, além
da União de Associações de Moradores de Porto Alegre e o Sindicato dos
Previdenciários. Esses ônibus pertencem ao Poder Público ou aos empresários?
Finalmente, gostaria de
renovar o convite à SMT e a todos os Vereadores aqui de Porto Alegre para
participarem do seminário que se realizará sexta e sábado no Sindicato dos
Trabalhadores no Pólo Petroquímico sobre a questão dos transportes.
O SR. MARIO FRAGA: O Sr. Secretário não me respondeu a última questão: quanto representam
os 24% na tarifa? Quanto representam e se o Sr. Secretário concorda comigo que
isso prejudica um milhão de usuários para beneficiar dez mil rodoviários?
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Secretário Diógenes Oliveira.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Esse abono salarial, essa antecipação de dissídio
coletivo, se estivesse isolada na planilha em relação à composição dos custos
totais do sistema, se incidisse só nele para decretar a tarifa, ele
representaria 12% no preço final da passagem de ônibus, mas como houve profunda
alteração, a tarifa é outra. E sobre o salário dos rodoviários se contrapõe ou
se contradiz a grande maioria da população que paga. Esta é uma discussão
profunda e muitas vezes temos conversado com os rodoviários, não sobre o
direito que eles têm de ter uma vida digna e um salário justo, mas sobre esta
relação que existe entre o salário deles e a população que paga. Nós não
queremos que eles ganhem mal, nós queremos que eles façam um bom serviço aos
trabalhadores que pagam para eles trabalharem. Agora, um salário de 80 mil
cruzeiros para um motorista, nas condições estressantes do nosso tráfego, não
está superdimensionado e talvez nem atenda as necessidades mínimas de uma
família no contexto da inflação em que vivemos.
Em relação às questões
pertinentes colocadas pelo Ver. Alvarenga, eu queria ver se consigo explicar com
clareza. Para nós, a questão do plus
tarifário estava regulada por uma lei municipal. Entendeu a Justiça, o Poder
Judiciário, de suspender a vigência dessa Lei e a execução dos Decretos daí
correspondentes. Portanto, não fomos nós que decidimos sobre a questão da
remuneração do capital, mas o Poder Judiciário que suspendeu a vigência da Lei,
porque enquanto a Lei esteve em vigor, nós não remunerávamos o capital dessa
frota adquirida neste conceito. Uma questão para nós muito importante não é a
opinião ou do Secretário dos Transportes ou do Prefeito Olívio Dutra sobre o
caráter dessa frota, mas a opinião do Poder Judiciário, da qual nós podemos
discordar, mas temos que obedecer, perante a qual nos curvamos. Diz o Poder
Judiciário que só se compra frota pública com o dinheiro do Orçamento e esta
foi a contradição em que nós nos metemos. Tivemos que dar caráter público a uma
frota que foi comprada não com o Orçamento, mas com o dinheiro privado.
Portanto, também isso, mais do que as nossas opiniões pessoais, são as decisões
judiciais que estão vigendo por força de lei, sobre cujo mérito nós podemos até
discutir e estamos discutindo através da nossa Procuradoria, mas impetrar uma
ação judicial para definir o caráter dessa frota, eu acho que é uma ação
recorrente, porque o próprio Poder Judiciário, nas suas sentenças liminares, já
decidiu sobre isso, nós podemos agora discutir o mérito dessas sentenças
liminares, mas não elas em si.
Eu queria, Vereador, que ficasse
bem clara a questão da depreciação. Nós, definitivamente, não estamos mais
depreciando nem remunerando mais esses ônibus de dez anos de idade. Nós
queremos que esses ônibus saiam da frota o mais rapidamente possível, para isso
tem um prazo fatal e já saíram do cálculo. O que eu não posso é retirar esses
ônibus hoje de circulação, porque eu não tenho ainda uma alternativa de frota
pra colocar no lugar. No momento em que eu construir e estou construindo essa
alternativa, eles serão imediatamente retirados. O que é preciso que se diga é
o seguinte, esses ônibus, eles estão rodando, eles estão transportando gente
provisoriamente, emergencialmente, então, eu tenho que remunerar essas
tripulações, eu tenho que considerar os percursos que esses ônibus fazem. Se,
caso contrário, não fizesse, seria então uma abstração daquilo que acontece na
firma em relação ao cálculo, e o cálculo matemático não abstrai a vida.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Martim Aranha Filho.
O SR. MARTIM ARANHA FILHO: Inicialmente, eu gostaria de cumprimentar o Sr.
Secretário e cumprimentá-lo pela amizade que temos já de outras feitas e,
principalmente, por hoje estar aqui prestando esclarecimentos à Câmara de
Vereadores.
Eu tenho uma questão fundamental,
é que, realmente, quando pedi uma Questão de Ordem, eu fui interrompido por uma
determinada balbúrdia no Plenário e eu não consegui entender com clareza, meu
caro Secretário Diógenes, o que o amigo relatou e entende por depreciação. A
definição de depreciação, eu entendo comumente ou correntemente eu imagino e
faço isso nos meus negócios. Mas, imaginando uma frota de ônibus que não é
pequena e serve Porto Alegre, serve a população, eu imagino que hoje ela deva
estar em mil e quinhentos veículos, se não mais. Então, eu gostaria de, não
usando o Regimento Interno em seu art. 202, § 2º, ou mesmo art. 1º, pedir, e
isso eu faria em três ou quatro perguntas, mas sempre nesta idéia de
depreciação. Eu imagino que existe um item na planilha de cálculo específico e
isolado, dito depreciação, eu gostaria de saber do nobre Secretário em quanto monta
esse percentual. Num cálculo rápido que fiz na ponta do lápis, imaginei que
poderia ser colocado à base de 8% ao ano de depreciação. Ao cabo de um ano, eu
teria a possibilidade de, com treze ônibus, ter um carro substituído nessa
frota. É claro que esse não é um cálculo perfeito, mas eu poderia imaginar,
pensando em mil e trezentos ônibus, e não mil e quinhentos, que ao cabo de um
ano eu teria me ressarcido em cem ônibus, portanto, em quatro anos, eu teria
quatrocentos ônibus, nessa matemática na ponta do lápis e en passant, de
acordo com o que disse o Secretário em sua exposição. Então, específica e
objetivamente, eu perguntaria o que, na planilha de cálculo para o cálculo da
tarifa, representa a depreciação em termos percentuais. E sobre esse raciocínio,
que fiz na ponta do lápis, de que teria cem ônibus a cada final de ano,
renovados, na frota.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Ver. Martim Aranha
Filho, o que é, exatamente, a depreciação do capital? Vamos ver se a gente
repõe o termo na sua verdadeira dimensão, para que possamos falar uma linguagem
comum. A depreciação de capital é um conceito contábil e um mecanismo através
do qual a pessoa que investiu num determinado bem vai recebendo, ao longo do
tempo, alguma quantia tal que possibilite a ele, investidor, recolocar um bem
novo no lugar daquele que envelheceu. Este é o conceito mais comezinho que nós
podemos fazer deste item depreciação. Diferente da remuneração do capital, que
é o lucro, previsto, também, em lei.
Por que a lei prevê a reposição
desse bem e remunera essa reposição? Porque, se não fosse assim, ao cabo de um
determinado tempo, o investidor inicial, não tendo sofrido nenhuma depreciação,
simplesmente não ia estar investindo quando o bem fosse envelhecendo. Nós,
dentro da sociedade capitalista em que vivemos, temos que separar bem o
conceito da depreciação e do lucro, que no nosso caso específico é chamado de
remuneração do capital, porque esse é do investidor e a depreciação é do
sistema. O que aconteceu ao longo dos anos? Ou produto de políticas, de
achatamento tarifário, ou produto de desvios de recursos do setor ou de outros
“n” fatores, esse item foi sendo descurado, tanto pelo empresariado como pelas
próprias administrações. Então, quando faltava dinheiro ou quando o dinheiro
não estava ali, o primeiro item que se sacrificava, porque é o menos visível de
todos, era a renovação do capital investido.
Aí vem a questão básica onde
queremos chegar. A depreciação tem um item específico na planilha, mas ela não
tem um percentual específico. A quantia arrecadada, no item depreciação,
depende fundamentalmente da estrutura etária da frota. Se eu tiver uma frota de
zero anos, a depreciação é total; se eu tiver uma frota de dez anos, a
depreciação é nula. Então, cada vez que vamos medir na planilha de custos esse
índice, temos que fazer uma radiografia, no mesmo momento, da frota e da sua
idade, porque um ônibus que tem oito anos tem um valor de depreciação, o que
tem cinco anos tem outro valor, o que tem três tem outro valor e assim
sucessivamente. É a ponderação desses índices que dá, depois, a quantia global
dessa rubrica.
Mas, para não nos perdermos,
Vereador, em alguns conceitos que podem ser um tanto obscuros, o que temos que
ter em mente é o seguinte: se temos uma frota de mil e quinhentos ônibus, como
de fato temos, e se essa frota é depreciada em dez anos, precisamos comprar
cento e cinqüenta ônibus novos por ano. Quando não se fizer isso, alguma coisa
está errada no sistema. Se compramos mais, que bom, mas até nem era necessário;
se compramos menos, o sistema vai apresentar problemas a seguir, porque aí
aquela dimensão do item começa a se reduzir e a frota começa a não se renovar
mais. É esta a situação que estamos enfrentando agora com essa política de
dimensionar corretamente o problema da depreciação para que a frota não se
sucateie mais.
O SR. MARTIM ARANHA FILHO: Eu estou satisfeito em parte, mas gostaria de, como
eu trato e acho que trato bem, até pela minha profissão, faço conta até de cabeça,
Ver. Dib, entendo que esse número deveria fazer parte integrante da planilha de
cálculos como percentual específico e firme, a fim de que a frota possa ser
renovada a cada ano. E é muito fácil fazer esse cálculo matemático, eu lembro
que estava na Câmara, ainda, quando a frota passou de dez para treze anos e com
essa possibilidade de dez para treze anos era só alterar essa variante que
teríamos o percentual correto.
Mas o preço da passagem, qualquer
que ela seja, hoje Cr$ 75,00, anteriormente cinqüenta e poucos, ela paga a
depreciação dos carros. Aliás, a passagem está cobrando essa depreciação que
vai para os cofres, ou da Prefeitura, que é o da CARRIS, ou para o particular.
Existe, portanto, o pagamento por parte da população da depreciação dos carros.
Então, entendo, meu caro amigo Secretário, que este número deve estar muito bem
presente - e é fácil de calcular - para outros cálculos, a fim de que se saiba
pelo pagamento da depreciação cobrada no bojo da passagem, nós saberemos
quantos carros teremos ao cabo de um ano.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Décio Schauren.
O SR. DÉCIO SCHAUREN: Sr. Secretário, eu ia exatamente falar sobre esta
questão da depreciação, mas como já foi abordado, eu pergunto se com a frota
velha que temos hoje em Porto Alegre, a gente sabe que um ônibus muito velho
quebra toda hora, isso evidentemente cria problema nos horários. Inclusive,
qualquer pessoa que tenha um carro sabe que as peças, que a despesa com oficina
aumenta muito mais do que aumenta a inflação. Então, pergunto se exatamente
esse item “manutenção”, hoje, não está subestimado e se não acontece que muitas
vezes o item “depreciação” é usado para repor o buraco deixado pelo item
“manutenção”, que é subestimado. Esta é a pergunta.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Foi muito oportuna a pergunta. Convém aqui examinar
o comportamento de alguns cartéis e monopólios da indústria automobilística.
Muitas vezes, o setor de autopeças, que gravita em torno das indústrias ou montadoras
de chassis, adota uma política de congelados, de não aumentar muito peças que
são pouco utilizadas nos transportes - o Ver. João Dib acena com a cabeça
porque conhece muito bem o assunto - e fazer aumentos abusivos nas peças que
são mais consumidas para, na média geral, ter um aumento dentro de determinados
patamares de inflação. Então, já vimos muito que as fábricas podem manter
durante muito tempo o preço de peças congeladas, mas aumentar muito toda aquela
outra gama de peças necessárias para a manutenção de um ônibus em andamento.
O problema da manutenção em
transportes coletivos é sério, estamos enfrentando, hoje, provavelmente,
conseqüências graves de uma política errada de manutenção da frota, tanto em
empresas públicas como privadas, porque quando formos para o apaga-incêndio,
para o tapa-buracos da manutenção corretiva e não fizemos uma manutenção
preventiva correta, ela imediatamente começa a se degradar e a se deteriorar.
Empresas com uma frota extremamente envelhecida, certamente, ao invés de
comprarem ônibus, estão gastando parte desse dinheiro, pelo menos, para
consertar ônibus e manter essa frota em andamento. Não é isto que queremos, não
é esta a política que possa contemplar a renovação do sistema. E é por isto que
estamos convencidos que é preciso baixar a idade média dos ônibus, não podemos
deixar a sucata circular, sob pena de ela se tornar autofágica e termos, num
futuro próximo, um transporte muito pior do que aquele que temos hoje.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Wilson Santos.
O SR. WILSON SANTOS: Sr. Secretário, formulo a seguinte questão: se o excedente de custo, o plus tarifário está incluído nesta tarifa de Cr$ 75,00. Sim ou não?
Por quê? Em caso negativo, se não está sendo cobrado, se existe intenção da SMT
em cobrar o plus.
Como V. Sª afirmou
categoricamente que a suspensão pela Justiça do plus tarifário geraria um colapso no transporte coletivo em razão
dos ônibus comprados por consórcio, pergunto: como foi suspenso o plus e não houve colapso, como estão
sendo pagos os consórcios?
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: Não está embutido nenhum plus nesta tarifa. E não estamos cobrando nenhum plus disfarçado nela, porque a Justiça,
mesmo em sentença liminar, proibiu a cobrança no plus. E queremos
obedecer, rigorosamente, a sentença judicial. É por isto que não estamos
cobrando nenhum plus. Vamos discutir o mérito da questão,
demandará o seu tempo nas instâncias dos nossos tribunais. Nós mantemos o nosso
ponto de vista de que aquilo era uma política correta, mas nos curvamos à
decisão judicial. Se ganharmos no mérito essa questão, vamos, quando isto
acontecer, se ganharmos, discutir sobre a necessidade, a viabilidade ou
oportunidade de continuar cobrando ou não. Mas isso se ganharmos no mérito.
Em relação ao problema do
colapso, diria a todos os senhores que nós atravessamos horas amargas na SMT.
Em determinado momento, nós chegamos a promover uma reunião extremamente
tumultuada com as administradoras do consórcio, com as empresas públicas, com
as empresas privadas. Houve uma colocação frontal dessas administradoras, que
são as verdadeiras proprietárias dessa frota, porque ela está toda alienada aos
consórcios e isso é o que a lei determina. Então, houve uma colocação frontal,
se continuasse a inadimplência do sistema, essa frota seria requisitada de
volta pelos mesmos tribunais que tinham nos suspendido a cobrança daquele
recurso. Foram situações difíceis de administrar, porque nós já presenciamos,
num determinado momento, um colapso parcial do sistema de transporte na
Restinga, com a falência do Belém Novo e com a tentativa de fazer com que a
CARRIS prestasse aquele serviço. E essa experiência é muito dolorosa, nós não
queremos mais vivê-la.
O colapso no transporte
coloca uma angústia muito grande na população, há a possibilidade, perante o
colapso, com a degradação do serviço, há possibilidade maior que a população
quebre o que resta, no seu desespero, o que até nós entendemos. Felizmente, eu
diria, após um processo de negociação muito árduo, que em alguns casos está
concluído e em outros não, nós estamos agora repassando aquela inadimplência
daquele momento para quotas finais de consórcios, além daquelas previstas no
plano original. Isto tem sido possível em alguns casos, em outros se delineiam
algumas demandas judiciais que nós não queríamos, mas que fatalmente deverão
ocorrer. Mas o fundamental é que o processo de negociação continua e nós
achamos que, se houver entendimento, talvez cheguemos a bom termo para que a
Cidade não seja prejudicada nesse aspecto.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Clóvis Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, companheiros Vereadores, Sr. Secretário, realmente é
muito grato ter o Secretário nesta tarde respondendo ao que nós podemos
classificar como irrespondível. Basta se pegar um dado. Quando a Câmara
Municipal fazia o aumento das tarifas, nós tínhamos, em média, de quatrocentos
e trinta a quatrocentos e cinqüenta passagens para cada salário mínimo; hoje,
temos duzentas.
O Sr. Secretário deixou-me muito
feliz hoje, com uma frase da sua genial criatividade: “A política é muito
dinâmica”. Pois é, Sr. Secretário, eu não posso dizer que fui o primeiro, mas
fui um dos primeiros que apresentou e falou sobre encampação nesta Casa, isso
há cerca de dez anos atrás, e quando fomos numa comissão de Vereadores visitar
as empresas que sofreram intervenção pela Administração Popular, para sorte
nossa encontramos como interventor-chefe da Trevo quem? Exatamente o Sr.
Secretário Municipal dos Transportes atual. E de toda a exposição com que S.
Exª nos brindou naquela tarde chuvosa, eu não vou esquecer de uma dessas suas
frases geniais: “Pois é, aqui estamos em nome do povo, intervindo e tomando
conta desses ônibus que são do povo, porque foram pagos pelo povo”. Mas que
bela frase! V. Exª não sabe como fiquei emocionado naquela tarde, até deixei,
suspendi a minha caminhada, não quis caminhar mais, tínhamos que visitar outras
empresas, só fiz mais uma visita e fui para casa. Realmente o povo restaura o
seu patrimônio e agora vejo V. Exª, nessa difícil tarefa de Secretário, a
Administração Popular capitulou, entregou os ônibus e está oportunizando a que
se compram mais ônibus com o dinheiro do povo para os empresários.
Este é o enfoque político que eu
gostaria de deixar nesta tarde, porque a sua manifestação também naquela tarde
foi política. Eu procurava naqueles momentos soluções técnicas, a Administração
Popular, sem experiência nessa atividade, buscava uma solução política que
servia de notícia nacional: a encampação, a intervenção do transporte coletivo
em Porto Alegre. E qual foi o resultado prático desta intervenção? Uma série de
problemas que estão aí, ações judiciais, uma frota de ônibus paga com o tal de plus, e tudo propriedade de quem? Dos
empresários.
Ora, Sr. Secretário, quando um
médico vai falar sobre saúde, evidentemente que ele tem que ter consigo dados
sobre a saúde da população, sobre a qual ele vai abordar. Quando se vai falar
sobre a história da Câmara de Vereadores, tem que ter dados, elementos que formam
a história da Câmara. Durante toda a tarde, com algumas breves saídas do
Plenário, notei que a discussão do aumento da tarifa gerado pela renovação de
frota foi abordada tão-somente nesse sentido. Ora, se estamos falando sobre
frota, porque a tarifa se deu em função de renovação de frota, e o Ver. Décio
Schauren foi muito feliz em lembrar que ônibus velho é um problema de
manutenção e um problema para a população, acho que temos que oferecer ônibus
novos. Mas vou lhe fazer uma pergunta, como o problema da tarifa se dá pela
renovação de frota, farei apenas uma pergunta, se V. Sª não me responder, eu
não tenho mais perguntas. Qual é a idade média da frota da CARRIS, da Sopal, da
Estoril e da São João? É a única pergunta que tenho para lhe fazer. No demais,
foi uma honra assistir a sua explanação.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Sr. Secretário.
O SR. DIÓGENES OLIVEIRA: É sempre brilhante e oportuna a intervenção do Ver.
Clóvis Brum. Considero uma façanha ter respondido o que respondi e eu considero
também uma façanha que tenha argumentado, me perdoem o neologismo, o
“inargumentável”. Novamente, Ver. Clóvis Brum, no dia em que nós comparamos
salário com tarifa neste País, vamos examinar a degradação das condições de
vida do nosso povo, porque, senão, nós estaremos nivelando por baixo e
estaremos querendo que todo mundo fique mal. Deixar o salário como está e
sucatear o transporte, porque o salário está baixo. Não é essa a nossa
intenção. Nós queremos todos juntos lutar para que o trabalhador tenha uma vida
melhor e para que tenha também o transporte. Não fui eu que mandei o
trabalhador pagar a conta do transporte; faz parte do mundo, das leis que nos
regem, isto sempre foi assim.
Quando se fala que o ônibus vem
da tarifa, às vezes o ônibus pode vir do orçamento público. Quando se dá um
aumento de capital para a CARRIS aqui nesta Casa, para ela comprar frota, este
também é um dinheiro público, é um dinheiro pago do imposto da população.
A comoção que o Ver. Clóvis Brum
sentiu quando visitou a Trevo naqueles tempos heróicos da intervenção nos
comove, agora, ao relembrar os momentos que nós passamos naqueles tempos que
foram duros, difíceis de superar, mas que foram extremamente gratificantes,
porque nos possibilitaram conhecer por dentro, nas suas entranhas, na sua
profundidade, na sua extensão, todo o sistema de transporte da Cidade. Talvez
não com a competência necessária, mas com o esforço possível de quem queria
entender esse sistema e melhorá-lo.
Nós não podemos cair naquela
crítica de que se morre por ter cão e se morre por não ter cão. Se o Ver.
Clóvis Brum quiser repetir a visita que fez à Trevo hoje na empresa Sopal,
então verá que lá a política foi diferente. E como é que se encampa ou como é
que se devolve uma empresa para os empresários depende do nível de
comprometimento desses empresários em relação às coisas públicas, depende da
correlação de forças e depende, fundamentalmente, dos recursos, porque, na
estrutura capitalista em que vivemos, não se encampa nada de ninguém sem pagar.
E eu queria dizer, Vereador, com
toda a franqueza, não tenho aqui os dados exatos, mas posso amanhã fornecer a
idade média da frota dessas empresas. Posso apenas fazer uma avaliação, isto
sim, porque a gente conhece a coisa pela epiderme. Diria que a CARRIS é uma empresa
que tem uma frota extremamente nova, e terá uma idade média muito baixa, no
máximo entre quatro ou cinco anos, que para nós é o ideal; a Sopal é uma
empresa que tem uma frota muito velha, deve estar quase no dobro desta questão
da CARRIS; a São João é uma empresa que está perdendo a sua personalidade,
porque foi adquirida pela Nortran, e é uma empresa pequena, possivelmente
desapareça como sigla, sendo incorporada pela Nortran, um processo que já havia
antes de chegarmos ao Governo e que continuou agora. Não sei como é a São João,
mas classificaria a Nortran como uma empresa razoável na operação do transporte
da Zona Norte, em relação às condições técnicas de frota. A Estoril tenho aqui,
mas se for do interesse de V. Exª, posso mandar esses números com precisão.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE: Agradecemos a presença do
Secretário Diógenes Oliveira e do Assessor do Planejamento, Sr. Jackson.
Suspendemos os trabalhos para as
despedidas.
(Suspendem-se os trabalhos às 18h.)
O SR. PRESIDENTE (às 18h20min): Estão reabertos os trabalhos.
Solicito ao Sr. 3º Secretário
que proceda à chamada nominal dos Srs. Vereadores.
O SR. 3º SECRETÁRIO: CHAMVER (Procede à chamada nominal dos Srs. Vereadores para
verificação de “quorum”.) Há “quorum”, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE: Requerimento com o Ver. Giovani Gregol.
O SR. GIOVANI GREGOL (Requerimento): Eu gostaria de pedir a inversão dos trabalhos, que
a Ordem do Dia possa ser vencida antes do Grande Expediente.
O SR. PRESIDENTE: Ordem do Dia e Grande
Expediente?
O SR. GIOVANI GREGOL: Exatamente.
O SR. CLÓVIS BRUM (Requerimento): Eu tenho um Requerimento em oposição ao Ver.
Giovani Gregol, gostaria da informação sobre o pedido de licença do Prefeito. A
minha proposição é que se votassem os Requerimentos, Pauta e depois a Ordem do
Dia.
O SR. PRESIDENTE: A licença do Prefeito não é Requerimento, Ver. Clóvis Brum, a licença do
Prefeito é um Projeto de Decreto Legislativo.
O SR. CLÓVIS BRUM: Então, eu pediria que se votasse em primeiro lugar o Projeto na Ordem do
Dia.
O SR. PRESIDENTE: Era isso que nós faríamos. Nesse sentido, nós estávamos acertando com as
Lideranças. Em votação o Requerimento do Ver. Giovani Gregol. (Pausa.) APROVADO.
Passamos
à
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, quis ser gentil com a Mesa, mas a Mesa não entendeu. Eu,
quando apresentei o Requerimento para que fosse votado em primeiro lugar o
Projeto de Decreto Legislativo, é porque sabia que a ordem de votação, na Ordem
do Dia, se dá à luz do Regimento Interno, art. 100. O Projeto de Decreto é a
nona proposição a ser votada pela ordem e, por isso, apresentei o Requerimento,
ou seja, para que ele fosse votado antes dos demais Requerimentos ou Projetos.
Mantenho o Requerimento.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Clóvis Brum, V. Exª tem razão. Na verdade, não é um Projeto de
Resolução, daí sua confusão, porque é um Projeto de Decreto Legislativo. De
qualquer forma, V. Exª tem razão, pois o Projeto de Lei antecede. Nesse
sentido, indago se V. Exª formula o Requerimento para manter o Projeto de Decreto
à frente e, posteriormente, o Projeto de Lei.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sim.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa agradece, porque caso contrário incorreria em erro por não se ter
dado conta dessa ordenação necessária, com base no art. 100. Portanto, em
votação o Requerimento do Ver. Clóvis Brum, a quem a Mesa, uma vez mais,
agradece, no sentido de alterar a ordem de votação. O Projeto de Decreto
Legislativo primeiramente; posteriormente, o Projeto de Lei. Os Srs. Vereadores
que o aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
O SR. JOÃO DIB (Questão de Ordem): Sr.
Presidente, eu estou requerendo o encerramento da presente Sessão, eis que
faltam apenas três minutos para que se completem as quatro horas da Sessão. Se
entrarmos na Ordem do Dia, vão haver sérias discussões que não nos levarão a
nada.
O SR. PRESIDENTE: Ver. João Dib, a Mesa informa a V. Exª que, com as interrupções havidas,
a Sessão se encerra, oficialmente, às dezoito horas e vinte e sete minutos.
PROC. Nº 1019/91 -
PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO Nº 004/91, que autoriza o Senhor Prefeito Municipal de Porto
Alegre a afastar-se do Estado, no período de 12 a 15 de abril do corrente ano.
Parecer:
- da CJR. Relator Ver. Vicente Dutra:
pela aprovação.
O SR.
PRESIDENTE: Em discussão o Projeto de Decreto
Legislativo que autoriza a viagem do Sr. Prefeito Municipal. (Pausa.) Não
havendo discussões, em votação. (Pausa.) Os Srs. Vereadores que o aprovam
permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
PROC. Nº 0961/90 - PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO
Nº 051/90, de autoria do Ver. Elói Guimarães, que determina o envio
para o Legislativo do Processo de Cálculo Tarifário por ônibus, lotação, táxis
e escolares no Município de Porto Alegre. Com
Emendas nos 01 e 02 e Subemenda à Emenda nº 02.
Pareceres:
- da CJR. Relator Ver.
Clóvis Brum: pela aprovação do Projeto;
- da CUTHAB. Relator Ver.
Antonio Hohlfeldt: pela aprovação do Projeto com a Emenda nº 01;
- da CJR. Relator Ver.
Clóvis Brum: pela aprovação da Emenda nº 01;
- da CEDECON. Relator Ver.
Cyro Martini: pela aprovação do Projeto com a Emenda nº 01.
O SR. PRESIDENTE: Em votação, visto que a discussão
foi encerrada na outra Sessão.
O SR. CLÓVIS BRUM (Requerimento): Sr. Presidente, nos termos regimentais, solicito
verificação de “quorum”.
O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Sr. Secretário que proceda à verificação de “quorum”.
O SR. SECRETÁRIO: CHAMVER (Procede à chamada nominal dos Srs. Vereadores para
verificação de “quorum”.) Sr. Presidente,
registramos a presença de sete Vereadores em Plenário.
O SR. PRESIDENTE: Não havendo “quorum” para a continuidade da Ordem do Dia, encerramos os
trabalhos da presente Sessão.
(Levanta-se a Sessão às 18h15min.)
* * * * *